terça-feira, 21 de dezembro de 2010

1º Enesiar: literatura, internet e fim do livro


Texto de José Marcos Taveira

Duxtei (e), Consa, Durvalina, Arnon, Luceni, Flávio e Zemarcos. Foto de Maria Antônia Dario

O 1º Enesiar (Encontro de Escritores Independentes de Araçatuba e Região), realizado no sábado (18) em Araçatuba (SP), discutiu temas interessantes envolvendo literatura e internet e até a possibilidade do fim do livro. O mais bacana foi saber que a UBE (União Brasileira de Escritores de Araçatuba), promotora do evento, estuda mudar seus estatutos para incluir blogueiros ligados à literatura em seu quadro de membros.

O presidente nacional da instituição, Joaquim Maria Botelho, participou do evento. Em sua palestra, mostrou todo o seu tradicionalismo ao apontar apenas o lado ruim da internet. Ele citou, com razão, blogueiros que copiam textos de escritores sem citar autorias ou apenas identificando como autor desconhecido. Mas se esqueceu - ou não quis lembrar - que grandes escritores também estão na blogosfera.

Mas em entrevista à repórter Aline Galcino, publicada hoje Folha da Região, concordou que a internet contribui para a divulgação da literatura e que essa falta de respeito aos autores não é específica da rede mundial de computadores. Na reportagem, afirmou ainda que a UBE está alterando seus estatutos para regimentar quem escreve para a internet, seguindo critérios de qualidade, conteúdo e elaboração intelectual.

O secretário de Cultura de Araçatuba, Hélio Consolaro, discordou do palestrante e lembrou da presença de escritores na blogosfera, como ele mesmo, divulgando seu trabalho. Consa criticou o "endeusamento" do livro, o que faz com que literários tradicionalistas e extremistas não enxerguem as novas mídias como parceiras. E foi além: disse ser favorável ao fim do livro, o que ajudaria a manter muitas árvores. Consa também lembrou que a secretaria de Cultura não valoriza apenas a literatura, mas todos os artistas ligados a ela.

Também participei da mesa de discussões. Falei sobre a criatividade dos artistas e que escritor é escritor em qualquer mídia, não apenas no livro. Defendi a inclusão de blogueiros escritores na própria UBE (lembrei, inclusive, que a entidade tem blog) e nas academias de letras, como já escrevi em meu blog. Não acredito no fim do livro ou do jornal impresso. Mas é preciso abrir a mente para o que a tecnologia nos oferece.

É necessário, como bem disse o Consa, acabar com o tradicionalismo latente e perceber que escrever um livro é algo para quem tem condições de pagar pelo serviço. O livro sempre vai ter importância em nossas vidas, mas todo radicalismo é burrice.

O coordenador das discussões, Antonio Luceni, também não concordou com o fim dos livros e alfinetou Consa: se o fim dele ajuda a manter árvores, o uso da tecnologia aumenta o lixo digital. Para ele, nada melhor do que folear páginas de um livro novo, sentir o cheiro, tocar. E usou um termo que achei muito engraçado: para ele, os tablets, como o Ipad, são livros travecos, pois simulam apenas o virar de uma página.

A mesa de discussões reuniu ainda Duxtei Vinhas, que também faz parte da UBE; a vereadora Durvalina Garcia, que falou sobre as leis municipais de incentivo aos escritores; o jornalista Arnon Gomes, que lançou um livro sobre a história do carnaval em Araçatuba e trabalha em mais dois projetos da Folha da Região, parceira do evento; e o marqueteiro Flávio Borges, representando a Editora Somos, da Folha, que orientou sobre a confecção de livros, modelos, etc.

Antes da nossa mesa, participaram da abertura o prefeito Cido Sério, a chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação, Patrícia Soares, Durvalina, o escritor Menalton Braff, Botelho, Consa, a editora-chefe da Folha da Região, Maria Antônia Dario, e Tito Damazo, ex-presidente da Academia Araçatubense de Letras.

O evento teve ainda palestra com Braff, sobre a literatura juvenil. Ele, que concordou com os argumentos do Consa, também fez sessão de autógrafo de "Bolero de Ravel", seu mais recente trabalho.