Texto de Lucimara Souza
Esse negócio de perfil de coluna social é um saco. Particularmente, nunca servi para isso. Mas... Incongruências à parte, eu leio toda vez que me deparo com um. As perguntinhas pouco atraentes nunca mudam e, de uns tempos pra cá, passei a observá-las para concluir minha opinião.
- Qual seu nome completo? Idade? Signo? E o hobby?
- zozozozoz, 18, áries. Meu hobby é jogar tênis.
- Hum...
O que tem de interessante até aí? Nada, né?
O entrevistador prossegue:
- O leitor quer saber: Qual o estado civil?
- Digamos que vivo um relacionamento aberto – risos.
Qual a graça? A resposta é esta para não parecer caretice, tenho certeza.
- Diga um defeito e uma qualidade.
- Nossa! Que difícil!
O/a convidado/a dá uma enrolada e cai sempre naquilo que todo mundo diz.
- Sou ansioso/a, sou teimoso/a.
Ninguém diz que é “mala-sem-alça”, egoísta, trapaceador. Os defeitos são bem amenos e muitas vezes irreais. Se a gente vê isso até com perfil de famosos, imagine com quem aceitou responder ao perfil somente para aparecer.
Qualidade então nem se fala! Nunca vi tanta gente sincera como nessas colunas.
Por outro lado, a pessoa pode ser a maior baladeira dos batidões sertanejos, mas cantor preferido é sempre Chico Buarque, Tom Jobim, Djavan, MPB em geral.
Ator? Geralmente joga ali um estrangeiro de olhos claros de quem o nome é lembrado na hora, quiçá o coadjuvante do último filme assistido.
As séries do momento são as melhores alternativas da TV, Deus é o ídolo e família é o porto seguro. Todavia, por trás, o que rola é novela mexicana, briga constante com família e presença de Deus só quando o negócio aperta.
É muita hipocrisia traçada perguntinha a perguntinha. Inúteis respostas que não servirão pra ninguém a não para o próprio/a entrevistado/a – e para a mãe dele/a.
A falta de criatividade é assombrosa. Tanto perguntas quanto respostas.
Eita sociedadezinha do parecer!
Eu nunca consegui preencher meu perfil de modo que revelasse quem sou realmente. Não consigo. Eu não sei. Acho que tenho problemas... [ risos ]. “Cidade:, Estado:, País:, Etnia:, e Orientação sexual: ” é tudo o que sei responder com precisão.
Por isso aqueles caderninhos de perguntas que as meninas levavam para a escola me irritavam tanto... O maldito questionário pulava de mão em mão, percorrendo a sala de aula, e as colegas ficavam fervorosas para responder e bisbilhotar as respostas alheias. Das 96 folhas do universitário de capa mole, a primeira página pedia a identificação.
Se eu colocasse meu nome no número 8, todas as outras revelações teriam que vir na ordem 8. Isso até o final do caderno. Eu tinha meus 11 ou 12 anos e me recordo do quanto eu abominava aquilo. Já era chatinha. Cheguei a tentar, mas fui incapaz de traçar meu perfil naquele espaço teen dos anos 90. Achava desnecessário colocar ali particularidades - inclusive amorosas - de uma vivência ainda tão curta e nada experiente. Que amor teria eu vivido aos 11 anos, se aos 10 eu ainda usava sandálias ortopédicas?
Enfim, essa situação foi só para ilustrar minha dificuldade de preencher perfil.
Não sou revoltada - eu juro! Sou só inconformada - com mais uma questão.
Esse tipo de entrevista, de perfil, poderia ser interessante se os moldes fossem mudados, com perguntas inteligentes, pessoas interessantes.