terça-feira, 16 de novembro de 2010

Minha bolha


Texto de Matheus Farizatto

Comigo é assim: se eu gosto, eu gosto, se não, já mostro na hora que não fui com a cara da pessoa. E assim eu fico. Não faço um pingo de questão. Caso encontre esse “ser” na rua? Posso fazer a linha “gentleman” e no máximo acenar com a cabeça em resposta ao “bom dia, tenha uma ótima semana!”, ou simplesmente olhar para meu relógio de pulso ao cruzar com a pessoa. Depende do meu humor. Que inclusive, varia muito.

Bipolaridade? Pode ser. Quase isso. Dou risada e choro e chingo com a mesma frequência e intensidade. Mas meu bom humor, ah, meu humor, esse não varia, é ÁCIDO! Sarcasmo é o apelido de um dos meus rins. O outro, pra mim não faz nem diferença. Se tem nome ou seu pai não lhe dá a mínima, azar o dele.

Mas tem um porém! Meus amigos eu conto nos dedos. E ai deles se vier com graça. Nem adianta, na minha sala ninguém fuma. Pode ser a amizade, “gata” ou “gato”, o que for: N.A M.I.N.H.A S.A.L.A. Q.U.E.M M.A.N.D.A S.O.U E.U. Quer fumar? Vá pra outro lugar. Assim minha dor de cabeça dói menos. Se veio aqui me visitar só pra isso, me deixa sozinho na minha bolha – meu lugar predileto do mundo. Meus livros e DVDs de filmes e séries americanas são excelentes companhias.

Pareço um velho rabugento? Quer saber quantos anos eu tenho? 25. Estou na faculdade. Mas, aff, detesto perguntas idiotas. Nem adianta me chamar pra beber cerveja em posto de gasolina que eu vou pra casa dormir – boa noite amores! Esse tipo de passeio só piora as minhas enxaquecas.

Não sei o nome dos professores e menos ainda dessas meninas que colecionam fotos dos Jonas Brothers. NÃO DOU CONTA! Esses muleques da sala também, Deus me livre! E como tem menina sem vergonha aqui, que não vale nada – aff...

Não tenho namorada e vivo muito bem sozinho. Se sou viado, circuncidado, homossexual, gay ou qualquer um que se enquadre naquela sigla enorme GL@#& À PQP! O que você acha, você guarda para seus felizes netos que terão que te aguentar contar histórias falsas e megalomaníacas na velhice. Pra mim, tem que atender NO MÍNIMO algumas exigências como altura, idade e viver na mesma cidade – estou certo, não é verdade?

Vivo assim. Passo dias em minha casa, sozinho. Eu, meu aparelho de dvd, notebook sem internet – assim falo com menos gente ainda – e minha cama de casal em que dormimos eu e a mim. Tenho cartelas e cartelas de Dorflex para dormirem comigo. Ótimas companheiras na madrugada.

Tanta gente me achando um PORRREEE... mew, vão vocês pra balada! Eu tô de boa. Sou assim desde sempre. Ah, e há algumas semanas tive a notícia de que tenho um tumor no cérebro. Pois é. É a minha bolha. Assustei na hora da notícia, mas continuo de boa. Qual o seu sentimento por mim? Me compreende melhor agora? Fica tranquilo. O médico disse que é benigno. Disse também que é muito raro. Isso não muda nada sobre quem eu sou e vou continuar sendo. Mudou em você sobre o que acha de mim? Se mudou, me avise que eu faço a cirurgia na próxima semana. Afinal, serão sempre poucos os que eu deixo entrar na minha bolha.

*** Essa é a história de um irmão do primo do meu vizinho que eu amo muito e é um grande amigo meu.