domingo, 19 de dezembro de 2010

Fechado para balanço


Texto de Matheus Farizatto

Estou fechado para balanço. Por favor, passe depois. Ou nem passe. Se não estiver se aguentando, deixe seu recado. Não garanto que irei ler. É melhor que a porta fique fechada enquanto entendo o que está acontecendo. Posso estar prestes a me tornar uma pessoa insuportável. É mais seguro aí fora.

Estou cansado e a festa agora será aqui dentro. A minha cerveja para mim mesmo, do mesmo jeito. O motivo? Estou comemorando comigo.

Comemorando minhas conquistas e até mesmo as derrotas que me trouxeram até aqui. Deixei claro para uma amiga: “eu não telefono mais”. Meses convidando-a para “tomar uma” com seus dois melhores amigos – e eu sou um deles – e nada. “Não posso”. “Hoje não dá”. “Ixi, mas tá difícil de dar certo, heim?”. E eu ligando toda semana para saber como ela estava. Primeiro o rompimento com o namorado. Depois a saída de casa para morar com a amiga. Outra hora o desemprego. E então as dificuldades do novo emprego chato. Brigou com a amiga que mora junto. Aí veio o apartamento novo só pra ela. E eu sempre telefonando e dando a maior força. Agora está em seu novo emprego, mandando super bem e eu não liguei mais. “Ow, oi sumido? Nossa, não apareceu mais, heim?”. Não mesmo e “pois é, se quiser a partir de hoje você me liga”. Estou ligando para mim mesmo. Se eu apertar o botão verde para rediscagem em meu celular, o primeiro número é o meu – MatheEUs Me Basto Farizatto.

Há alguns meses meu melhor amigo me disse que iria casar. POXA, QUE BACANA! PARABÉNS! Semanas depois disse que seria pai. POXA, QUE BACANA! PARABÉNS! Ligo para tomarmos uma junto e ele não pode. Se vai, a noiva está junto e ele mimando ela o tempo todo. Reclama pra mim que o casamento está um porre e que ela é uma grossa. “Calma, vai ficar tudo bem. Conversa com ela”. Está um porre. “Ow, domingo é aniversário dela. Liga pra ela porque ela só vai chamar quem telefonar”. Mandarei uma mensagem – só porque ainda não me tornei insuportável – mas não conte comigo na comemoração depois dessa.

Outra amiga. Há anos veio me dizer que seu marido estava com ejaculação precoce. “Ah, Má, o que eu faço?”. Ah, sei lá, conversa com ele ou manda ele bater uma antes! Depois disso veio a promoção dela no trabalho, a mudança de emprego e o câncer na garganta de seu cachorro. E eu? VAI DAR TUDO CERTO, FIQUE TRANQUILA. E ela até retribuiu: “isso mesmo Má vai em frente, você é ótimo!”. E ela até engravidou. Liguei antes e logo após o parto. Vi até a foto do bebê no site da maternidade no dia do nascimento e enviei aos mais próximos. Falei com o marido e dei os PARABÉNS, PARABÉNS, PARABÉNS! Comprei um presente no mesmo dia. Até gravei o nome do bebê e sua data de nascimento. Está comigo até hoje. “Ah, Má, essa semana darei as vacinas nele e depois você já pode vir visitá-lo”. Dois meses. Não responde nem me retorna no MSN. Continuo com o presente e hoje deixei um recado pra ela apenas pedindo o endereço para mandar a bendita lembrancinha.

Torna meu melhor amigo hoje: “vamos tomar uma amanhã, saberei o sexo do meu filho e quero comemorar!”. Eu mais uma vez iria comemorar a felicidade dele e daria os PARABÉNS, PARABÉNS, PARABÉNS, mas sinceramente, é hora de eu receber os PARABÉNS, PARABÉNS, PARABÉNS.

Chega de comemorar o dos outros. É hora de comemorar os meus vários motivos para comemorar e que sempre passam despercebidos aos olhos dos outros. Estou fechado para balanço e quando abrir, posso ter me tornado uma pessoa insuportável para muitos.