quinta-feira, 7 de abril de 2011

Só quarenta



Há quem diga que os tempos mudaram... para pior.

Licenciosidade, liberalidade e afins, seriam as características do mundo de hoje.

Não acho. Para mim nada mudou porque na sua essência o ser humano é sempre o mesmo. Da msma forma que a Cleópatra deu em cima do Marco Antônio, a Lurdinha parte pra cima do Joaquim, da farmácia.

Ainda acho que a mulher de hoje é mais ousada e o homem mais atrevido.

Escuta, você já ouviu falar de Calígula, o rei dos bacanais?

Creso era um sujeito chegando aos quarenta, alto, forte e sobretudo usava uma camisa Armani e um cinto, combinando com uma capanga da Gucci. Não era moralista e, como se diz no MSN, disponível.

Sônia, alta, morena, boca carnuda, olhos verdes e com capacidade suficiente para perceber que ali estava a metade que lhe fora tirada por Zeus, naquela história contada por Platão em 'O banquete'. Aquela que conta o mito do narcisismo, fala de androgenia.

O encontro foi casual. Restaurante cheio, nenhum lugar para ela e Creso, sozinho, convidou-a para a sua mesa.

Depois daquele papo inicial, meio assim-assim, os temas foram ficando cada vez mais consistentes e quando deram por conta, estavam falando sobre comportamento humano.

Ela, advogada bem sucedida e ele um psicanalista afastado da clínica, por precisar cuidar dos negócios da família. O pai, velho e doente, não poderia fazê-lo mais.

- Então, Sônia, a sua amiga Lurdinha não participaria dos bacanais do Calígula?

- Não tenha tanta certeza. De qualquer forma Cleópatra tiraria a roupa na frente de uma webcam?

Dando boas gargalhadas, esgotaram o tema.

- Vou chamar o maitre. Você já pensou no que comer? perguntou Creso.

- Acho que uma boa massa cairia bem.

- Eu estava pensando em um peixe, acompanhado de um bom vinho tinto.

- Creso, peixe com vinho tinto? Sempre ouvi que esse tipo de carne fica melhor com vinho branco.

- Em princípio, sim. Ocorre que se o tinto tiver baixa quantidade de ferro, não deixará o gosto residual amargo na boca. O vinho branco não tem o tanino do tinto, mas é a alta quantidade de ferro que constitui o problema.

- Nossa, você é um excelente gourmet. Como costuma ser a sua alimentação habitual?

- Não sou um glutão, prefiro comidas mais leves.

E conversando alegremente, chegaram ao final da refeição.

- Posso te levar para casa, Sônia?

- Ah! Que pena. Estou com o meu carro no estacionamento ali da esquina. O do restaurante estava lotado.

- Bem, então eu vou levá-la ao carro.

Ceso já estava entrando na garagem da sua casa, quando o celular tocou.

- É a Sônia. Queria te avisar que eu peso quarenta quilos.