segunda-feira, 2 de maio de 2011

Parque Trianon


Era fevereiro e naquela manhã o sol já brilhava com fúria. Com a disciplina das formigas as pessoas caminhavam a passos largos e apressados pela mais paulista das avenidas. Centena de vezes havia passado na frente daquele parque, mas nunca tive a tentação de parar. Naquele dia, depois de hesitar um pouco, decidi entrar.

Logo na entrada uma enorme figueira de braços abertos recebe os visitantes. Caminhei entre sapucaias, cedros, pitangueiras e jequitibás e me sentei em um dos inúmeros bancos. Estava cansado por isso o banco na sombra das arvores me pareceu aconchegante. Passei, então, a observar as pessoas. Alguns passavam apressados, usando o parque apenas como caminho, outros passeavam, namoravam ou simplesmente conversavam.

Olhei para um banco quase em frente ao que estava e vi uma jovem – devia ter seus 18 anos – que parecia hesitar abrir um envelope que trazia nas mãos. Como que em um ato heroico abriu o envelope e segundos depois começou a chorar. Tive vontade de perguntar se precisava de ajuda, mas me recolhi e apenas continuei a observar.

Seria um teste de gravidez? Talvez pudesse ser um resultado de exame de saúde. Nada fiz apenas a acompanhei com os olhos quando ela se levantou e saiu.

Neste instante surge um grupo de turistas e alguns se sentaram no mesmo banco. Traziam um mapa e calorosamente discutiam que caminho seguir, embora parte do grupo apenas se preocupasse em obter uma boa foto. Enfim chegaram a um acordo e marcharam para o novo local a ser visitado.

Mais adiante, em outro banco, um casal, indiferente a tudo que se passava se engolia em um depravado beijo.

Um mendigo revirou um cesto de lixo que estava ao meu lado. Encontrou um jornal e sentou-se no banco para ler. Lia o jornal e comentava a noticia consigo mesmo, às vezes de maneira mais ríspida esbravejava em repúdio a algo que não o agradava. Depois de se atualizar, levantou-se e saiu caminhando alegremente.

Um cara que corria no parque passou umas vinte vezes por onde eu estava. Reparei que sua expressão sofrida deixava transparecer que aquele exercício lhe custava muito. Só de o ver já estava exausto.

Resolvi circular pelo parque. Depois de caminhar alguns minutos passo por um banco onde um casal discutia o que parecia ser uma separação. Ela bradava que ele a havia usado, e ele, envergonhado pelos olhares curiosos, tentava acalmá-la. Em vão a moça levantou-se e aos prantos chamava-o de cafajeste. Apressei o passo porque não me interessava saber detalhes daquela discussão.

Mais adiante encontro um homem dormindo em um dos bancos, um rapaz passeava com seu cão, enquanto outros dois se beijavam de maneira apaixonada.

Um pequeno lugar, um resto de mata nativa em meio a arranha-céus, mas que não se intimida e reserva espaço para todo tipo de comportamento, sem censura, sem cobrança. Foram quarenta minutos que ali permaneci, imagino o que poderia ver ao longo de um dia inteiro…