quarta-feira, 22 de junho de 2011
Caindo no conto da "visita": eu caí
Tive uma semana realmente punk, num misto de bizarra e pitoresca. Nela rolou de tudo: gripe, dor de garganta, rouquidão, mudança de espaço físico (sala) com a minha turma de 4º ano, ensaio de quadrilha, reunião pra "ler" planejamento, a constatação de que estou quase anêmica e pra arrematar, uma "visita-de-grego" que eu recebi em minha casa, em plena terça feira bruta e à noite. E bota noite nisso, pois as "visitas" custaram a ir embora. Quase que tive que colocar a vassoura atrás da porta!
Vou tentar resumir essa ópera-bufa, essa "Tomada da Bastilha". Vou tentar, porque a coisa foi tão desagradável que fica difícil contar. Bem, realizem a cena:
Uma pessoa conhecida, mas com a qual você não tem a menor intimidade, encontra-se com seu marido na rua e - do nada, diz: "Vou fazer uma visita pra vocês, estou devendo essa visita, posso ir amanhã?". Seu marido, completamente surpreso com a fala da conhecida, recebe educadamente o autoconvite da pessoa. Acha estranhíssimo, mas diante do fato não há o que fazer a não ser dizer o famoso "Vai mesmo, pode ir sim." Seu marido chega em casa e te conta o ocorrido, ao que você, macaca-velha, já suspeita: "O que será que a fulana de tal quer???".
Segue-se então uma mesa-redonda em que cada membro da família, até o cachorro, opina sobre a razão que levou a pessoa a querer fazer a tal visita. Todos especulam: "Será que é pra convidar pra participar de encontro de casal da igreja? Será que é pra pedir material pedagógico emprestado? Será que é pra pedir donativos? Será que é pra convidar para o aniversário dos filhos da pessoa? ".
Na doce ilusão de que fosse por algum desses motivos, a dúvida pairou em casa, até a fatídica noite de terça feira. Após um dia exaustivo de trabalho e estudos, a tal pessoa toca o interfone do seu apartamento e todos correm para a janela pra vê-la e se deparam com a presença de uma acompanhante com cara e roupa de vendedora de enciclopédia. Seu marido não teve dúvida: é pra gente ajudar em encontro de casais, ele tem certeza. A pessoa é recebida com a gentileza e educação com a qual se recebe uma visita ilustre, mesmo porque ela NUNCA veio em sua casa, então, que seja bem-vinda.
A acompanhante é uma mistura estranha de vendedora de Barsa, atendente de telemarketing e esteticista de loja de departamentos. Uma coisa assim, meio "tensa", como diz minha filha. Suspense total: o que fazem aquelas pessoas estranhas ali, bem no meio da sua minúscula sala de TV/visita/biblioteca/lan house???
O que se seguiu foi digno de uma releitura de algum filme sinistro de Hitckock (como se escreve isso?), misturado, claro, com um filme do Zé do Caixão. (Joguem no google pra saber, pois ele é um ícone do terror brasileiro trash). Você tem vontade de esganar seu marido, afinal, seu instinto de sobrevivência faz você querer culpar alguém por aquele momento.
Amenidades são proferidas e você não consegue descobrir o que aquelas duas criaturas estão fazendo ali na sua casa, numa noite fria de terça feira. Depois de mais ou menos meia hora de puxação de conversa chata, a pessoa introduz a razão da visita: a acompanhante está trabalhando com um "instrumento de saúde" e gostaria de fazer uma demonstração. Ávidos, você, seu marido e seus filhos perguntam de qual instrumento se trata. Ambas, vendedora e comissionada, não respondem, fazendo um joguinho ridículo de adivinhação.
Seu sangue começa a querer ferver e seu marido coça a barba (sinal de que não está achando a menor graça naquilo). Seu filho, cansado do trabalho, bate em retirada para o banho - são 19 horas e ninguém lanchou ainda. Sua filha, mais paciente e curiosa, segura a onda e acompanha a cena até o seu desfecho. E bota cena e desfecho nisso. A vendedora vai até o carro pegar o tal instrumento. "Instrumento do capeta", você pensa.
Eis que a danenta volta e apresenta a todos uma pasta enorme com as explicações sobre o material que, até a 10ª página, só trata de questões vagas a respeito de saúde, doenças (câncer, diabetes, hipertensão, etc). Enquanto a vendedora lê todas aquelas páginas, mostrando minuciosamente cada palavra, estômagos roncam e seu marido te cutuca debaixo da mesa, sua filha boceja e seu filho, que demora horas no banho, aparece na sala pra pegar o que supõe, ser o fim da "visita".
Enfim, tomados pela raiva, fome, cansaço, frio e indignação, vocês ouvem a tão esperada resposta: a desgramada da visita te usou para que a cunhada dela tentasse te vender um colchão. Sim, meus caros, colchão. Mas não um colchão qualquer. De casal e que cura diabetes, hipertensão, problemas renais, hérnia de disco, câncer e até hemorroidas. Um colchão que, ligado na tomada, te massageia e "AVISA SUAS CÉLULAS QUE ELAS PRECISAM TRABALHAR DIREITO".
Você e seu marido se entreolham, passados e engomados diante de tais considerações. E sua filha, no auge da adolescência crítica, ameaça cair na risada. E a melhor parte dessa história ainda está por vir: seu marido, já de saco bem cheio, solta a pergunta "Vamos ao que interessa - quanto custa?" . E a vendedora, esperançosa e canastrona, responde: "11 mil". 11 mil reais.
Vocês não se contém: o quêeeeeeeeeeeeeeeeeee?
E a vendedora insiste com o casal de professores sobre os benefícios de se ter um colchão como aquele. "Tá todo mundo comprando"!
Você respira fundo e pede a palavra. Tenta mostrar, educadamente, que você não é "todo mundo". A luta continua, até que vocês olham no relógio: 22 horas. Você e seu marido tentam muito ser educados, mas diante da falta de noção da vendedora e da cunhada "comissionada", você se levanta da mesa e começa a tentar encerrar a noite para que ambas tomem tento. Um colchão pelo preço de um carro. Um colchão que cura TUDOOOOOOOOOOOOO. Curou as hemorroidas do marido da vendedora e os rins do marido da comissionada. Será que ele pode curar a cara de pau delas?
Seu marido fecha a cara e as duas, enfim, se cansam da empreitada e vão embora, finalmente. A família inicia um verdadeiro festival de piadas sobre os benefícios do colchão. Realmente, tudo nessa vida tem um lado bom, embora você tenha tido prejuízo de gastar um limão, sal e açúcar que a famigerada vendedora te fez pegar para demonstrar o que o colchão faz com a glicose da pessoa e com o sal do corpo.
Não tenho mais dúvidas: passei meleca na cruz! E eu nem tentei a mandinga da vassoura! Ah, nemmmmmmmmm!