terça-feira, 3 de julho de 2012

Basta, Thomaz!


Ventura Picasso

*E aí... Comeu?

Sexo e contravenção são divertidos. Quem vê cara não vê coração, assim como a visível Raimunda, de perfil fazendo uma fezinha, arriscando na milhar do jacaré um sonho da noite anterior; logo mais a noitinha estará em seu ponto. Sem preservativo (?), nem pensar! No capitalismo tudo, tem um preço, menos tu doutor.

Refletindo sobre imagens e palavras, sem imaginar, invadi o espaço de ‘Carlitos’. Os ricos de hoje, compram o silêncio, contradizendo Chaplin que afirmava em Tempos Modernos: “os ricos compravam barulho”.

Na televisão a imagem não constrangia o espectador indignado; Violentava. A cena subvertia a estética. Naquela hora e naquele lugar, lado a lado, Thomaz instrui o suspeito: “Fecha o bico”.

- ”Com os direitos garantidos pela Constituição da República Federativa do Brasil, vou ficar em silêncio; caladinho, como cidadão brasileiro e eleitor do Demostenes!”

Entrou mudo e saiu calado.

Ao lado de Cachoeira, seu advogado com o olhar distante, num momento abstrato divagava em outra praia. Ele estava, sem querer estar, constrangido.

Onde estariam em 2003, o advogado e seu cliente? Em suas bancas? No Ministério da Justiça, Thomaz Bastos transformava a Polícia Federal. Em Goiás, o bicheiro vendia pules. Não se bicavam. Cada um na sua, um não existia para o outro. Será?

Os homens de bem, hoje, se orgulham da PF. Entre todos os Ministros da Justiça, em nossa história, o melhor. O nosso ex-ministro têm o direito de defender qualquer suspeito, é o seu trabalho, dele depende a sua subsistência. Não é o primeiro ex-ministro da justiça que defende a causa dos gigantes da contravenção.

O patrulhamento exercido por uns poucos, alegando que como ex-ministro, em hipótese alguma, ele deveria defender Cachoeira; Mais contundente, o Procurador Regional da República, Manoel Pastana, entrou com uma representação contra o ex-ministro Bastos, entre outros pontos alegou o fato de Cachoeira não ter dinheiro suficiente para pagar os honorários à banca de Thomas. Fica subtendido que aceitar dinheiro de bandido é como receptar produto de furto. Não é bem isso, mas quase.

O discurso de Thomas na TV, procurando safar-se do rótulo de advogado ‘porta de cadeia’, aquele que faz qualquer coisa por dinheiro, foi mal. A linguagem visual é outra. O discurso que contradiz a acusação é abstrato e volátil. As imagens daquela foto televisiva sem legenda, não. É o cenário congelado que faz história.

Apenas uma foto!

O argumento sonoro, dizia Charles, manipula a fotografia. No filme mudo, de Cachoeira e Bastos, a expressão corporal não revelava nada, não havia um gesto, uma palavra, cúmplices estáticos traídos pelo o olhar. Moral da foto imoral, os olhos dizem tudo.

Apenas uma foto!

A CPI é importante para a sociedade por abrir e liberar o debate sobre o comportamento de funcionários, servidores públicos e pessoas comuns envolvidas nas mais variadas tramas. O telespectador tem o direito de ver as feições desses (empresários) “marginais”, mesmo que sejam contemplados com prisão domiciliar.

O bom advogado para cumprir com suas obrigações descarrega uma cascata de recursos (40?), para livrar da cadeia imediata o esperto e abastado freguês. Ninguém procura absolver ou condenar o bicheiro, é como jogar no bicho. No capitalismo tudo, tem um preço, menos tu doutor. Lá pelas tantas, cai na mesa de um desembargador de plantão, 50 mil folhas acusando o delinquente, dá o bicho, o cara vai para casa, e é só alegria. Quem não arrisca fica sem visita íntima... “E aí, comeu?” Sexo e contravenção são divertidos.

*‘E aí, comeu?’ Filme de Felipe Joffily – Adaptação da peça de Marcelo Rubens Paiva, de 1998. Entrou em cartaz 22/06.