Manoel Fernando dos Santos
“Primeiramente deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas, ou seja, nenhum fornicador ou adúltero poderá ter um contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão, os que cuidarem de meu sepultamento deverão retirar toda a minha vestimenta, me banhar, me secar e me envolver totalmente despido em um lençol branco que está neste prédio, em uma bolsa que deixei na primeira sala do primeiro andar, após me envolverem neste lençol poderão me colocar em meu caixão. Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu. Preciso de visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura pelo menos uma vez, preciso que ele ore diante de minha sepultura pedindo o perdão de Deus pelo o que eu fiz rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte para a vida eterna.”
“Eu deixei uma casa em Sepetiba da qual nenhum familiar precisa, existem instituições pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado a uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar, trabalhar para se alimentarem, por isso, os que se apropriarem de minha casa, eu peço, por favor, que tenham bom senso e cumpra m o meu pedido, por cumprindo o meu pedido, automaticamente estarão cumprindo a vontade dos pais que desejavam passar esse imóvel para meu nome e todos sabem disso, senão cumprirem meu pedido, automaticamente estarão desrespeitando a vontade dos pais, o que prova que vocês não tem nenhuma consideração pelos nossos pais que já dormem, eu acredito que todos vocês tenham alguma consideração pelos nossos pais, provem isso fazendo o que eu pedi.”
Fonte: www.g1.com.br
Este texto é de uma carta deixada por Wellington Menezes de Oliveira, que vitimou 12 crianças em uma escola municipal no Rio de Janeiro.
E eu em um surto antropológico, tento decifra o indecifrável, caminhando no contexto deste texto desconexo, sem, contudo julgar o ato insano. Hoje um tanto mais maduro e capaz de avaliar sem compromete-me emocionalmente. Chego a questionar, até onde vai a nossa capacidade de adoecer as pessoas? Ou até onde alcançamos resistência pra não nos deixar adoecer? No mundo onde os valores, estão invertidos, a intolerância desafia ao bom senso e o desprezo pela dor do outro, são meros percalços de um cotidiano decadente. Onde debilidade social degenera os bons costumes, valorizando a forma ao invés do conteúdo.
Como encontrar equilíbrio? Quando o comportamento monstruoso encontra apoio de pais omissos, permissivos, entregue aos caprichos daqueles aquém deveria exercer autoridade. Filhos tiranos, saboreando o poder na mais tenra idade, sendo cruéis e mesmo malignos com aqueles aquém deveriam se submeter-se.
Em meio à bagunça organizada, invertemos papeis, quando o Estado retira do cidadão o pátrio poder, devolvendo-o, quando este por força de lei deve cumprir a pena do menor infrator. Reféns do medo, da violência, inventamos um novo adolescente, competitivo patológico, sem limites e de crueldade extremada. Extravasando sua ira, destilando seu veneno para dentro do muro da escola. Déspotas uniformizados, implacável com aquele que é diferente e que não comunga dos mesmos interesses.
A evolução é a ordem natural das coisas, mas precisamos ficar atentos, quanto aos monstros que por hora alimentamos, com doses gigantescas de impunidade.
Às vezes me questiono, onde foi parar os meus heróis de infância? Eram íntegros, honestos, se a semelhando a figura de meu pai. Que quando me administrava uma punição, era apenas um recurso pedagógico. Onde encontrar equilíbrio? De tão sedento de heróis, condecoramos o policial no comprimento, no exercício do dever. Era pra ser louvável se não fosse raros as atitudes dos policiais, por isso o ato descomunal desperta complexidade, por saber que deveria ser corriqueira e, não fato isolado da instituição que tem tanto a oferecer.
Hoje em um mundo onde não há heróis, que a violência descabida pode ser confundida como ato nobre. Vejo o vilão assumir o papel do mocinho, e sendo ovacionado por uma torcida organizada, que como regra evolucionista, são os mais forte sobrepujando a fraqueza do “inferior”, que desesperados e sozinhos, emocionalmente abalados adoecem. Assim quando um grito no silêncio ecoa, contra o seu torturador. E eles não têm cara! São todos! E até algozes de si mesmo na tentativa de amenizar a dor.
O bullying faz de todos nós vítimas, faz de todos nós passageiros do medo, não tem quem nos salve do ressoar do grito do silêncio. Surgi do nada como serpente, astuta e, sem balbuciar palavras, nos desperta á imagem de terror. Convicto do bem que fizera, repousa justificada. E em sua psique desfigurada, o gesto encontra respaldo; não importa o numero de covas. Triste caminhar da humanidade! De sentimentos plasmados no curral da superfície, não tem trilha, só medo! Não tem jeito, tem morte.