domingo, 10 de fevereiro de 2013

É Carnaval


Matheus Farizatto

Uma mulher e um homem acabam de se conhecer durante o jantar na casa de um casal de amigos em comum e andam juntos pelas ruas no caminho de volta para seus lares. “Eu fico aqui”, diz a moça na porta de sua residência. Na sequência, sem rodeios, solta “se quiser, pode entrar e transar comigo assim que apagarmos as luzes”. O cara a rejeita e ela cai aos prantos nos ombros do homem abraçando-o fortemente, dizendo que está carente desde a morte de seu marido.

Esta história aconteceu comigo. Mentira. É cena do filme “O Lado Bom da Vida”. Mas poderia, sim, ter rolado naturalmente comigo ou com você. O longa em cartaz nos cinemas é uma comédia romântica, drama – sei lá qual foi a intenção – que aborda a bipolaridade. Porém, definir nesta a variação de humor das pessoas é simplificar demais o Carnaval das polaridades humana.

No trabalho, uma amiga pediu ajuda em voz alta à equipe para uma atividade que precisa atender, mas que no momento estava muito ocupada. Em cerca de cinco segundos, ninguém respondeu e então me ofereci.

Ao começar a me explicar o que precisava que eu fizesse, começou a chorar e a engasgar nas lágrimas e a ficar vermelha sem conseguir completar uma frase sequer. Quando retomava, passou a ter ânsia de vômito e a dizer que estava com muita dor de cabeça.

Atendi ao pedido pouco antes de ela correr para o ambulatório da empresa. Ela teve um pico de pressão causado por estresse que atacou o seu fígado que a atingiu na cabeça, que a fez ter vontade de vomitar, que por sua vez a deixou com a boca sem cor. Voltou para o escritório e ao começar a contar o ocorrido à supervisora para que esta a dispensasse do trabalho, voltou a começar a chorar, cara vermelha... Já contei.

Outra amiga posta um aviso no Facebook sempre que sua mãe é internada no hospital e atualiza com o quadro clínico sempre que há uma piora ou melhora.

Nos preparativos para o Carnaval, um amigo me contou que não iria mais à praia, pois a namorada do dono da casa em que ficariam caiu em depressão por uma ansiedade causada pela viagem. É piada pronta: “fiquei triste porque fiquei animada em ver o mar”.

Sim: as pessoas são perturbadas até que me provem o contrário.

Evitando o programa Fantástico no domingo, zapeei pelos canais até parar em uma reportagem gringa que falava sobre os acumuladores – pessoas que juntam coisas e nunca conseguem se desfazer delas, tornando suas casas verdadeiros depósitos infestados por insetos.

A personagem da matéria, uma “acumuladora”, aparentava ter quase sessenta anos e vivia em uma casa (troca) – depósito (troca) – lixão com seu filho. Deixada por seu marido e o outro herdeiro, ela é psicóloga. Sim, uma profissional da mente e do comportamento que não consegue tirar o lixo do banheiro por não querer se desfazer das coisas (troca) – uma louca (troca) – usa bermuda de cotton na cor mortadela e amarra o cabelo em chiquinha no topo da cabeça.

Depois de vários depoimentos cafonas dublados sobre a tal mulher e a intervenção de especialistas para deixar a casa – e ela – em ordem, o programa acabou com final feliz – até ali – e então começou outro, chamado “Desordem Mental”. Este segundo falaria sobre um homem de meia idade, bem sucedido, que nunca aceitou o fato de ter a perna esquerda e já até havia planejado a altura da coxa em que pretendia amputá-la.

Não entendeu? Volte e releia atentamente, pois continuo inconformado demais para explicar isso.

No intervalo de mais este show de especialistas, casos bizarros e dublagens sem noção, descobri que se tratava de um canal chamado Home & Health (h&h), um especial da rede Discovery que possui parte de sua programação dedicada aos assuntos: “bem-estar físico e emocional e histórias sobre a realidade em que trabalham e vivem médicos e pacientes”.

Com todas estas referências, meu abre alas nesta sexta-feira de Carnaval foi “O Cinema” e na programação os foliões do meu bloco vão receber as atrações “Meus Livros”, “Aqueles DVDs”, “O Apê Novo de Minha Amiga” e “Programa a Dois com Meu Amor”.

Na televisão, tem folia nos canais abertos e no h&h da TV por assinatura.

Na vida real, tem fantasia e tem alegoria. Mas tudo normal. É Carnaval.