Texto de Uenes Gomes
A sensação de ser insultado na rua e ter que ficar calado é horrível. Se muitas crianças se desenvolvem com muitas habilidades, as crianças que estão sujeitas ao bullying não têm espaço para demonstrar tais dotes.
A partir de uma brincadeira se começa a triste trajetória de dois indivíduos. Sim, porque a vítima não sofre sozinha, o agressor também passa por uma pressão psicológica que determina a sempre espancar, insultar, xingar, etc...
As escolas são cenários perfeitos para atuação da prática. As vítimas nunca têm nada demais. Só não são muito populares, na maioria estudiosos, garotos que se dedicam aos afazeres curriculares e tem uma estrutura intelectual pautada no que estão aprendendo ou talvez no que estão sendo instruídos. Nesse contexto, não é difícil não perceber que o bullying está na nossa cara. Acontece também dentro de casa.
Eu sofri bullying. Fui uma criança não muito social, criado com minha avó. Na escola, passei horrores, fui insultado, espancado, mas as políticas educacionais da época tratavam o comportamento dos agressores como "malcomportados" ou garotos problemáticos, que trazem problemas de casa, visto que o bullying nem sonhava ser um assunto de interesse mundial e que teria a repercussão que tem hoje. Pois agora temos leis que punem agressores.
Bullying causa dificuldade no aprendizado. O fato do medo que a vítima tem de perguntar ao professor sobre a matéria é tanta que o deixa levar as dúvidas para casa. Acreditem, há professores também agressores. Saibam que muitas vezes esses professores cometem tal crime sem ao menos perceber que o estão fazendo.
Quando o professor despreza o aluno por ele não tem um "QI" bom, isso é bullyng.
Tive a oportunidade de estudar com professores que faziam o possível para punir os outros garotos que me insultavam, pois eu apresentava trejeitos homossexuais desde criança, sempre fui apelidado de "bicha", "viado", dentre outros termos chulos que é de conhecimento de muitos.
Tive também a oportunidade de conhecer profissionais da educação que se afastaram de crianças por eles serem pobres e pela condição social que apresentavam. Não vinham trajados ao gosto do professor, que esperava na sala de aula alunos cheirosos e bem-arrumados. Causando a prática do bullying ainda mais séria (bullying em massa). A partir da atitude deste profissional, os outros alunos dariam início ao processo de desconstrução psicológica.
Na adolescência, mal andava de cabeça erguida e tinha medo quando encontrava outro rapaz na rua. Achava que sempre seria insultado. Minha formação social foi bastante retraída. Não tive muitos amigos do sexo masculinos. Construindo grandes amizades no sexo oposto, onde me encontrei e tomei a posição de pessoa respeitável. Sabendo impor.
Isso é muito importante. Superar aquilo que sempre sofri foi difícil, foi preciso muitos frios na barriga para dizer um "não". A maioria das pessoas que sofrem deste mal não tem coragem de dizer "não", para não ser mais discriminada do que já é.
Ainda são precárias atitudes que tornem efetivamente erradas a prática desta anomalia social. É preciso que se trave uma campanha para melhor esclarecer o que é o bullying.
Não é difícil encontrar crianças que adoram estar sozinhas. Adolescentes que metem a cara no mundo virtual porque lá eles encontram pessoas que combinam. Adultos que se tornam agressores ou adultos que têm dificuldade de se comunicar.
Enfim, é difícil lidar. Para resolver este assunto, é interessante que as vítimas falem, abram a boca e gritem. Porque ficar calado não dá certo e só colabora para que a ferida cresça mais e mais.
Não sofra calado. Denuncie.