segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Creio sim, ora...


Texto de José Hamilton Brito

O que ser místico? É ser crente; crer em uma religião ou em fenômenos e ainda em coisas sobrenaturais. Bastou a razão não explicar e teremos um material para o místico se ocupar; geralmente ele buscará o entendimento crendo, acreditando em algo ou entidade que o ligue ao divino, ao sobrenatural.

Buscar explicação pela ciência não basta. Se a explicação não vem pela ciência, pelo saber, terá que vir de outra forma, pois sem resposta imediata, o místico não fica. Evoluir pelo conhecimento e pela compreensão gradativa que só a ciência propicia não se encaixa no amor maior, amplo, que o místico diz possuir e que segundo eles, carece aos demais.

O poder do ser humano me parece, se consubstancia no que ele sabe e não no que ele crê. O místico, todavia, vive mais em função do que ele acredita. Já ouvi dizer que todos somos místicos quando queremos a explicação do que nos cerca, quando queremos saber o porquê das coisas. Eu quero sim, saber, mas me valho da ciência, pois esta exige que aceitemos as suas leis, suas verdades provadas até aquele momento, coisa que as religiões não fazem. Acredita quem quiser...o dogma da Santíssima Trindade, acredita quem quiser.

Eu, por exemplo, creio.

-Uai! Então que diabo de conversa fiada...

Bem,, eu creio, mas não é um creiiiiiiiioooo assim e a culpa é mais Dele que minha. Quem mandou que me desse o livre arbítrio, que desse a inteligência e, sobretudo, me fizesse um fã daquele apóstolo que precisava ver para crer. Tudo é fruto de uma Deidade. Acreditei até que aparecesse um cabra, muito do safado, chamado Darwin. Bagunçou minha cabeça. Arrumou uma encrenca com a igreja, foi excomungado, depois foi perdoado pelo João XXIII que até pediu desculpas para a família dele.

Digo com sinceridade: gostaria de crer, sem reservas, integralmente...juro por Deus. E olha que sou ex-seminarista. Dizem que somos os piores... De vez em quando me pego orando, sobretudo nos momentos de maior angústia e logo fico envergonhado e imaginando Ele me dizendo:

-Uai, seu negão safado, não acredita piamente e vem agora com esta xurumela toda.Vai procurar o caminhão do qual você caiu.

Acham que gosto desta situação?

Tenho do lado de lá, se é que existe mesmo um lado de lá, pessoas que me amaram muito e que assim, sabem da minha angústia, das minhas dúvidas...nunca vieram me avisar:

-Sujeito, toma tento.

E não é de hoje a história. Vem de longe.

Sabem o que Kami? É a parte insubstancial de uma coisa ou pessoa....é a nossa alma, acho.

Sabem o que prega o xintoísmo?

Prega o culto natural de mitos e lendas nas quais ninguém acredita sinceramente, mas veneram totalmente...pode?

Não é mais ou menos o que fazem....deixa pra lá, que já fui excomungado uma vez pelo bispo. Lembram da história da laranja, da faca e do garfo?

Não quero virar as costas para a herança cultural que recebi da minha família, para toda uma criação esmerada e até porque....e se é tudo verdade?

Chego no céu e faço ou falo o quê para o Homem? Digo que mesmo com a minha crença meia-boca, procurei fazer o que Ele pregou, vai bastar?

E pior, olho por cima dos ombros Dele e vejo o Consa todo pimpolho junto aos anjinhos e suas harpinhas, cantando Lenha e, reclamando, ouço:

-Uai sujeito, você foi secretário da Cultura?