terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Só queremos ser aceitos


Texto de Rodrigo Ziviani

Me add? O ponto de interrogação mais clichê da internet - e que eu dispenso - norteia "A rede social", de David Fincher, um dos favoritos ao Oscar. Vi, gostei e recomendo. O filme, que a princípio parece ser sobre a batalha judicial acerca da criação do Facebook, não é entretenimento apenas para espectadores com noção básica sobre as redes sociais. É também um libelo atual e realista sobre a incessante e paranoica busca por aceitação.

Marck Zuckerberg, o pai do Facebook, deve a essa busca os 25 bilhões de dólares que acumulou até agora. A rejeição pela paquera da faculdade, o que aos olhos de muitos é algo bobo e corriqueiro, foi o trampolim para a fortuna. Frustrado por não ser correspondido, Zuckerberg inventou a ferramenta que hoje conecta meio bilhão de pessoas. E que, assim como ele, só querem ser aceitas.

O filme de Fincher mostra que o mérito de Zuckerberg, eleito como a personalidade do ano pela revista Time, não é exatamente o Facebook, tão ou mais tolo que Orkut e similares. O mais jovem bilionário do mundo é notável por transformar um limão azedo (o amor de mão única) em uma limonada saborosa. O nerd ignorado pela namorada foi, então, aceito pelo mundo. Ao menos financeiramente, saiu no lucro.

"A rede social" brinca de maneira inteligente e menos óbvia com outras camadas do senso comum. O Facebook é a tal da casa de ferreiro com espeto de pau. Como pode algo tão popular e rentável ter saído da cabeça de alguém tão tímido, quase antissocial? Zuckerberg é, sem dúvidas, empreendedor. Mas sua invenção é, antes de tudo, a antítese de um caráter reservado, muito mais afeito ao amor pleno que aos bilhões conquistados graças à eterna procura por algo que nos preencha. E que certamente não é o dinheiro. Os bilionários, enfim, são felizes? Em "A rede social", a julgar especialmente pela última cena, é fácil concluir que nem sempre.

O filme, se tomado como metáfora, é um retrato indigesto de cada um de nós. O sucesso do Facebook está diretamente lincado à insegurança que nos guia rumo a uma necessidade vazia de popularidade e aceitação para aplacar a rejeição daqueles que um dia desejamos ter ao nosso lado. "O maior preço que se pode pagar por alguma coisa é ter de pedi-la", escreveu Marcel Achard. Há algo de errado e contraditório, portanto, em pedir para ser aceito, seja na vida real, seja na fantasia delirante dos sites de relacionamento.

Zuckerberg, que acaba se revelando muito mais interessante do que a ferramenta que criou, deu uma bengala virtual de presente a um mundo emocionalmente manco que também pretende se divertir e se comunicar. O que a gente realmente quer é amor de verdade. Daqueles à moda antiga, tête-à-tête, difícil de achar. Enquanto isso, me add?