Texto de Hamilton Brito
José e Cláudio, todos os anos, logo no primeiro dia das férias, colocavam as respectivas famílias nos carros e iam para alguma praia. Gostavam muito de ir para Florianópolis. Alugavam sempre a mesma casa na Lagoa da Conceição, quase ali onde a beira-mar se divide, uma indo para as Canasvieiras e a outra para a Joaquina. Como se diz: na boca do gol.
Um belo ano as férias vieram com certo atraso e tiveram que viajar no dia 24 de dezembro, véspera do natal. Saíram já pelo meio do dia e “ se mandaram” mas como iam com crianças e adolescentes, as paradas eram obrigatórias, o que atrasava a viagem. Era férias, não havia pressa e a alegria reinava.
Por volta das onze horas começaram a procurar um lugar decente para descansarem e fazer a ceia natalina. Rodaram mais um pouco e minutos antes da meia noite viram um restaurante, típico de beira de estrada e : é aqui mesmo né Zé.
-Vamos nessa!
Desceram, examinaram o local... meio esquisito
- Você queria o quê, o meu! Um Fasano aqui neste fim de mundo?
Não era bem o local, sua parte física... era mais os frequentadores. Havia algo que, se não estava errado, também não estava muito explicado.
- Quer saber, é época de confraternização, de aceitação do próximo, de desarmar os espíritos.
Pediram lá o que comer e enquanto esperavam, ficaram se distraindo com as cervejas, que estavam bem geladas.
Tanto a filha de um quanto a do outro, já meninotas, foram ao banheiro e demoraram mais que o normal; quando já iam ver o que estava acontecendo, as duas apareceram maquiadas; uma maquiagem forte, típica das mulheres da vida airosa:
-Pô, meu, que diabo é isso?
Quem fez isso em vocês?
- Ah! Duas moças que disseram que somos bonitas e fizeram esta maquiagem na gente.
Para não ferir suscetibilidades, deixaram como estava. Assim que fossem embora, parariam para remover aquela desgraceira. O problema foi convencer a mãe de uma das meninas a esperar: elas estão com cara de biscate...
Enquanto discutiam o fato, o filho de um deles, aí por volta dos cinco anos, sem que os pais vissem subiu por uma escada e sumiu lá pra cima.
- Quem vai buscar?
- Eu não vou,vai você.
Vai você, não vou e de repente o menino desce:
- Pai, tem um homem e uma mulher pelados lá em cima, ele está em cima dela, apertando ela na cama e acho que está batendo na coitada...
O menino não tinha terminado a palavra coitada e as mulheres saíram arrastando tudo, jogando pratos e copos no chão na correria para o carro... morrendo de vergonha.
- Ah, meu Deus. Praga de menino, ele não está matando ninguém.
- Uai pai, o que eles estão fazendo, então?
- Eles estão... estão. Já com a sua mãe lá no carro, coisa ruim!
Bem, alguém tinha que pagar as despesas. Houve uma certa demora, ainda havia pratos solicitados que não tinham sido servidos. Procurava-se a possibilidade de embalá-los para viagem, não havia esse tipo de atendimento.
- E aí, vão morar no rende-vouz agora, seus safados. Gostaram de alguma puta?
Os dois chefes de família, homens honrados, saíram sob os xingamentos das “meninas“ e as gargalhadas dos homens presentes.. Puta que o pariu, vésp... que véspera que nada, no dia de Natal. E o Jesus menino vendo esta desgraceira toda.
Culpado? Só se foi Deus. Quem poderia imaginar que a gente estava parando, para passar a virada de Natal, em um puteiro...