segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Tratado de Tordesilhas ou Tratado de Alcáçovas?
O Tratado de Tordesilhas é um tema deveras nebuloso e pouco compreendido nas escolas brasileiras. Ensina-se apenas que o Tratado "dividia" as áreas de influência oceânica entre Portugal e Espanha.
Achei conveniente uma abordagem um pouco mais profunda sobre o tema de acordo com a visão de historiadores portugueses, que logicamente enfatizam seu nacionalismo glorificando a perspicácia dos portugueses, pioneiros na arte da navegação.
Nem por isso deixaremos de lado essa visão lusitana dos fatos. Ao historiador cabe o distanciamento do tempo histórico e uma visão analítica dos fatos. Nunca se soube ao certo porque erraram a rota para o caminho das Índias resultando na descoberta do Brasil, mas nesta postagem, uma luz pode ajudar a esclarecer os fatos.
Portugal e Castela eram dois condados independentes, porém ligados intimamente por laços de parentesco. Em 1471 ocorre uma disputa pela coroa de Castela, mas Beatriz, Duquesa de Bragança e tia de Isabel (futura rainha de Castela) promove um acordo de paz.
Fernando (do condado de Aragão) casou-se com Isabel (do condado de Castela) unindo os reinos de Aragão e Castela. Em 1479 buscando manter o equilíbrio entre as famílias e ser aceita como legítima herdeira de Castela, Isabel tem que fazer algumas concessões e usa o Oceano Atlântico para esse fim. Concede ao Sul das Ilhas Canárias para Portugal e ao Norte para Castela e Aragão, o chamado "paralelo 27". Este acordo ficou conhecido como Tratado de Alcáçovas, determinando limites exploratórios do Oceano para ambos os lados.
Surge Cristovam Colombo, comerciante genovês que devido suas viagens de negócios interessa-se profundamente pela marinha, e numa de suas viagens conhece uma portuguesa no porto de Lisboa com a qual se casa. Seu sogro era governador de uma ilha em Cabo Verde e muito lhe interessava os novos descobrimentos do Atlântico, assim Colombo obtêm acesso fácil às cartografias e notícias importantes das descobertas do momento. Em seus estudos Colombo estava convencido que era possível chegar ao Japão atravessando o Atlântico.
Convicto, foi ao Rei D. João II de Portugal pedir o financiamento para uma expedição exploratória. Seu pedido foi negado. Não contente foi aos reis de Castela, Isabel e Fernando, e os convence da grande oportunidade que sua rota representava para o Ocidente em direção ao Oriente.
Isabel financiou a expedição com a nau Santa Maria e as caravelas Nina e Pinta (tenho certeza que você se lembrou da primeira vez que ouviu esses nomes na sala de aula), que dois meses depois aporta nas Bahamas. Depois de descobrir Cuba e o Haiti regressa e desembarca em Lisboa se apresentando ao rei D. João II, com uma certa presunção, mostrando alguns nativos que trouxe das novas terras. Pura pirraça.
Algumas especulações dão conta que houve um plano para assassinas Colombo e encobrir sua descoberta, porém o rei, numa atitude mais diplomática, resolve enviar uma frota para espionar a rota até o Atlântico acidental, e uma corte espiã à Castela. Colombo foi recebido com honras de herói, mas tinha que dizer a localização correta de sua rota para ser colocada na bula correspondente e evitar conflito entre os reinos, mas, segundo o Tratado de Alcáçovas o ponto meridional das Ilhas Canárias ao Sul se dá na Flórida, portanto, tudo ao Sul da Flórida pertenceria a Portugal
Evidentemente os espanhóis ficaram indignados. Inimaginável perder essa descoberta por motivos burocráticos, chegam até a recorrer ao Papa Alexandre VI para decidir a questão. Detalhes desse embate à parte, Colombo sugere uma nova divisão do mundo do Polo Norte ao Polo Sul, partindo o planeta em duas metades, não mais em Hemisférios. Numa nova expedição, Colombo cartografa em detalhes o mapa das terras descobertas.
Sem muitas certezas dos fatos, historiadores portugueses defendem que durante uma das viagens de Bartolomeu Dias buscando o Índico, costumava navegar pela Costa Africana, porém percebeu a existência de ventos contrários que dificultavam a viagem tornando-a muito perigosa, os chamados Ventos Alíseos, sendo necessário ao invés de contornar a Costa Africana, contornar os ventos resultando numa viagem tranquila, ou seja, contornar a barriga para alcançar ventos favoráveis, imprescindíveis para uma navegação tranquila à vela.
Portanto, navegando mais a Sudoeste do Atlântico, Bartolomeu encontraria ventos favoráveis agilizando a viagem. Lembram que no começo do post eu disse que havia um motivo para o desvio das rotas para as Índias, este desvio acarretou na descoberta do Brasil e segundo especulações, Dom João sabia (por Bartolomeu) a existência de terras ali, assim, para não levantar suspeitas, aceita a nova divisão oceânica. Sem muitas documentações, apenas especulações de origem técnica e política, em 7 de Julho de 1494 duas delegações das coroas reúnem-se em Tordesilhas assinando as áreas de influência onde 370 léguas a oeste de Cabo Verde seria o ponto de divisão de um polo a outro
Desta feita Portugal perdeu o o controle que teria sobre toda a América Latina, ficando com uma pequena parte do imenso Continente. Todos felizes e de acordo esses europeus partem para a missão de "civilizar" os nativos dessas regiões colonizando as novas terras.
A tentativa de escravizar do índio e a escandalosa escravidão africana em solo brasileiro, será o tema do próximo post. É uma vergonha chamar isso de civilização, povos estranhos que acham que podem dividir o mundo em duas partes e subjugar os nativos roubando matéria prima, destruindo sua cultura, estuprando mulheres e dizimando milhões de pessoas com objetivo de enriquecimento de suas nações.
Ainda fico indignada em observar brasileiros, povos mestiços oriundos dessa miscigenação forçada, e cruel que enchem o peito para dizer que na Europa tudo é melhor. Creio que tudo depende do ponto de vista, levando em conta que um ponto de vista é apenas a visão de um dos pontos.