sábado, 5 de março de 2011

O futuro da TV é social



Já escrevi no post "Audiência, mostra a tua cara" (http://sher-meditationsinanemergency.blogspot.com/2011/01/audiencia-mostra-tua-cara.html) sobre a nova tendência do público de interagir simultaneamente com programas de TV e mídias sociais, e o quanto isto tem influenciado na volta do appointment television (quando a audiência possui um "compromisso” com um programa, adaptando sua rotina ao horário da transmissão).

Este "compromisso" parecia destinado à extinção com o crescimento dos DVRs (como o TiVo) e downloads, que dão ao público a liberdade de decidir quando e onde irão assistir aos programas. Mas as tecnologias móveis somadas às mídias Facebook e Twitter têm permitido aos espectadores compartilhar suas opiniões ao mesmo tempo em que programa é transmitido. E esta é uma vantagem limitada somente àqueles que assistem em tempo real.

O artigo de Megan O'Neill esta semana no Social Times (http://bit.ly/efrbIH) não apenas comprova esta tendência, mas mostra como está influenciando até decisões de roteiro. A colunista aponta o 13º episódio da 7ª temporada de Grey’s Anatomy, que foi ao ar dia 3 de fevereiro nos EUA, como um divisor de águas. Pela primeira vez o Twitter foi incorporado à trama de um episódio, durante o qual a Dra. Miranda Bailey twittou em tempo real. Para isto a ABC criou no Twitter o perfil @MirandaBaileyMD, e no dia em que o episódio foi ao ar o perfil já tinha mais de 22.700 seguidores.

Estudos comprovam que fãs que assistem programas online são mais engajados e ávidos que os fãs que assistem na TV. Se este dado está realmente correto, não há duvidas que as emissoras precisam se adaptar urgentemente para sobreviver a esta nova realidade. E neste caso palmas para a ABC, que com esta ação ofereceu um benefício a mais ao público que assistiu ao programa em tempo real (e consequentemente assistiu aos comerciais dos patrocinadores). Quem assistir mais tarde via download (legal ou ilegal), streaming (legal ou ilegal) ou em aparelhos DVR, poderá estar livre dos intervalos comerciais, mas não terá o prazer da experiência em tempo real.

Apesar de não ser uma grande fã de Grey’s Anatomy (e a ideia de um médico twittando durante uma cirurgia me parece tão assustadora quanto à de um piloto de avião jogando Wii durante um vôo), admito que trata-se de uma estratégia inteligente, uma versão mais avançada das ações do tipo "watch and tweet" que já vêm sendo usadas por emissoras que trabalham com programação teen. Ao dar incentivos para que os programas sejam assistidos em tempo real, as emissoras talvez consigam de volta o controle do jogo, que haviam perdido para a web. Na primeira fase desta virada, vimos a TV adaptando-se ao território online, inserindo-se dentro das mídias sociais, com a criação de páginas no Facebook para os fãs das series, fóruns de discussão nos seus websites e até websódios. Nesta segunda fase, são as mídias sociais que estão sendo inseridas dentro do território televisivo.

Ações deste tipo explicam porque a TV social é o hot topic do momento. Interativa na sua essência, foi listada ano passado pelo MIT como uma das 10 mais importantes tendências para 2011. Além das próprias redes sociais, já existem inúmeros apps disponíveis para este tipo de interação, entre eles o Tunerfish, o Miso e o Yap.TV. Desenhados para as plataformas iPhone, iPad, Android e para a web, estes apps dão aos fãs a chance de divulgar o que estão assistindo em tempo real e assim encontrar outros fãs com os mesmos interesses. Estamos testemunhando a TV social finalmente sair da teoria.

Não são apenas os programas, a publicidade também será afetada. Segundo a Adweek, o Yap.TV está desenvolvendo um produto que sincroniza anúncios de TV com anúncios em tablets. Essa tecnologia reconhece quando um comercial é transmitido na TV e convida o telespectador a interagir, seja agendando um test-drive, por exemplo, ou reservando um pacote turístico. Esta tecnologia pode da mesma forma ser utilizada dentro da trama, e oferecer anúncios via tablet para os produtos sendo usados em cena.

Em outro artigo sobre o tema, no San Francisco Chronicle, a colunista Benny Evangelista defende que assistir TV sempre foi uma experiência coletiva. Afinal desde os anos 50 as pessoas se reuniam no escritório para conversar sobre o episódio de I Love Lucy da noite anterior (há também os estudos de Dorothy Hobson sobre o comportamento da audiência de novelas). Só que agora esta “conversa” atingiu uma dimensão que vai muito além do colega de trabalho ou do vizinho.

Especialistas em TV Social explicam que emissoras e anunciantes estão se apoiando em uma já documentada tendência de comportamento dos consumidores contemporâneos: a obsessão com multitasking, ou multi-tarefas. Já que as pessoas tendem a falar ao telefone, responder emails e ler o jornal enquanto assistem TV, por que não usar isso a favor de um maior engajamento com os programas?

É cedo ainda para avaliar os prós e contras da TV social, mas vale ficar atento aos novos comportamentos de recepção e consumo de TV que poderão ser observados nos próximos anos.