domingo, 27 de março de 2011

Recordar é viver



Eu hoje sonhei com...

Retornar, rever e ficar tomado por uma gostosa emoção... Mesmo que a princípio doa um pouquinho.

Seja à velha igreja da infância ou ao distante Líbano; eu também já vivi um momento assim... Acho que todos o vivemos.

Um dia resolvi abraçar o sacerdócio... Levado pelas mãos de um padre da cidade, eu e mais alguns meninos, fomos para o seminário diocesano de Lins.

Fiquei lá algum tempo e assisti às inúmeras transformações físicas que o imóvel foi sofrendo com o tempo. Lembro-me que ele era quadrado. Uma entrada que dava para um pátio onde não havia nada; à esquerda algumas salas de aulas e a capela.

Na outra extensão, o refeitório e à direita, mais salas de aula, sanitários, uma mesa de pingue- pongue e o apartamento do padre que nos ministrava aulas de música e era o regente do coral de três ou quatro vozes que fazia sucesso nas cerimônias na catedral. No piso superior, dormitórios e o apartamento do padre responsável pela disciplina e professor de latim.

O danado ficava a noite inteira matando gato, no bosque de eucaliptos que havia ao lado ou bem-te-vi, sentado nos braços da santa que mais tarde foi colocada em um jardim, feito naquele pátio vazio. Era estudar, praticar esportes e rezar. Sai do seminário. Mais tarde fui trabalhar na indústria farmacêutica, assumi uma supervisão de equipe e fui trabalhar em Lins.

-Ah! Vou visitar o velho seminário... Não era mais.

Entrei pela mesma portaria da minha infância. Adentrei ao jardim, já não tão bonito. A santinha ainda estava lá. Sei não, mas acho que ela piscou para mim. Revi tudo como se estivesse acontecendo naquele momento. Vi-me jogando futebol, saindo da capela ou entrando no refeitório, levando bronca por alguma peraltice, xingando o latim. Se já estava morto, o desgraçado...

“Vi”o Batistela, o Amantéa, o Ficoto, o Eusígnio, o Gomes, o Cláudio, que morreu sacerdote recentemente, também o padre Lino, o padre Kondó, o monsenhor Pazzeto, nosso reitor. O Joaquim, hoje meu cunhado.

Quando me dei conta, soluçava.
Percebi que alguém chegou atrás de mim...Ficou em silêncio por algum tempo. Nada disse.

Quando percebeu que estava mais calmo, colocou a mão no meu ombro e perguntou:

- As lágrimas são de tristeza ou felicidade?

Olhei, era um jovem padre.

- São de saudade. Aqui vivi um bom tempo da minha vida.

Ele me levou a ver... Melhor, rever tudo.

E fui embora, feliz da vida.