segunda-feira, 25 de abril de 2011
Formando jornalistas
Enquanto Carrie Bradshaw atravessa a rua perfumada e saltitante em seu par de Manolo Blahnik, acenando para os táxis de Manhattan – em Sex and The City, Mathew Farizah tem cartão Very Important Person (V.I.P.) nos mototáxis de Raiberry Pretew.
Dia de homologação, 7h10 e não encontro um mototaxista sequer. O encontro entre contador do antigo emprego e ex-assessor de imprensa de lá (Mathew Farizah) estava marcado para 8h, no Ministério do Trabalho.
Vinte minutos e seis cartões de centrais de mototáxi rasgados depois, atende. O motoboy chega. Chove. Me entrega o capacete. Chovisqueiro. Meu rosto absorve o mau cheiro do capacete molhado e começa a corrida.
MotoMan ou motoOld? Motoboy? Seu Nivaldo tem 48 anos, é metalúrgico aposentado e mototaxista “pá num ficá em casa”.
“Aposentei faz dez anu. Virei mototáxi só pá ficá pá rua. Num aguento minha muié não”, desabafa o senhor que viveu mais de uma década em São Paulo.
“Num nasci aqui (em Ribeirão Preto-SP), mas foi aqui que comecei a trabaiá como metalúrgico. Depois mudei pra São Paulo com minha muié e minhas fia pra trabalhaiá lá. Minhas duas mininas foram criadas lá. A gente ficô doze anu lá”, me contou enquanto andávamos a 30 km por hora com a moto. E garoando. “Vô divagá porque gosto di fazê as coisa direitu”. E fez. Sobre a moto e sobre a vida.
Seu Nivaldo aposentou com salário de R$ 2 mil, segundo ele mesmo. “Já dá um sussegu pra genti. Minha muié num trabaia e eu tiru mais uns milin como mototáxi”, comenta.
E foi devagar mesmo, fazendo as coisas direito, que formou suas duas filhas. Durante oito anos, já aposentado e se virando como mototaxista, seu Nivaldo dormiu e acordou formando jornalistas. Ambas graduadas em Ribeirão.
“Uma tá na área de jornalismo. Trabaia bastanti e gosta muito de sê jornalista. A ôtra também gosta muito, mas num tá na área ainda. Talvez vai fazê ‘as Letras’ pra tê outra faculdade. Ribeirão é bão porque tem oportunidade”.
Seu Nivaldo é “bão” porque faz a oportunidade. Cheguei ao Ministério e só então notei que minhas costas estavam encharcadas além da chuva, por conta da falta de um paralama na motinha que rodou por tanto tempo formando jornalistas.