terça-feira, 31 de maio de 2011

Um caso de amor em Portugal



-O desfibrilador, rápido.

Uma, duas vezes e a paciente não reagia. Lembrou-se da frase do Chico: “ e eu que não creio, peço a Deus por minha gente”.

Adaptou-a para a situação; pediu pelo seu amor.

Conheceu-a em Lisboa, andando despreocupado pelo Parque das Nações , depois de ter descido do teleférico. Uma esbelta morena ia à sua frente. De repente, escorregou e caiu. Ajudou-a levantar-se.

-Bom dia, senhorita, você esta bem?

-Bom dia, estou sim, foi só o susto.O senhor é brasileiro, que bom ter caído para ser socorrida por um conterrâneo; estava precisando falar um pouco do português da minha terra. Cheguei ontem mas o sotaque já me dá nos nervos.

-Heloisa é o meu nome, Eduardo.

-Como você sabe o meu nome?

-Está escrito no bolsinho da sua camisa, pode olhar.

-Deus, que estúpido eu sou.

Continuaram a caminhada dando sonoras risadas, chamando a atenção dos transeuntes, aos quais Eduardo, sorrindo, acenava.

Aquela tarde passaram andando pela cidade, até depararem-se com o famoso Vértigo Café, com os seus móveis da década de 50 e 60, com o seu visual retrô. O interessante é que mesmo com toda a pompa e circunstância , serviam uma refeição simples e saborosa.

Como estavam cansados, ela havia chegado um dia antes, resolveram que após o jantar, recolher-se-iam para um merecido descanso. Estavam hospedados no mesmo hotel e....mão de Deus, no mesmo andar.

Descobriram estar em apartamentos contíguos.

-Heloisa, na minha geladeira, tenho um champanhe no ponto exato.

-Na minha também tenho. Boa noite.

-Tenho algumas garrafas de vinho do |Porto e...

Ficou ali, com a maior cara de besta... mas prometeu vingança.

No outro dia saíram para passear, conhecer mais a linda cidade. Perguntaram ali mesmo no hotel um roteiro a seguir e foram sem preocupação alguma. Caso se perdessem, um táxi os traria de volta . Sem que tivessem feito uma pergunta a alguém, de repente estavam no Culturgest. Trata-se de uma galeria de arte localizada no porão do maior banco Português, cuja sede os de Lisboa acham feia.
Assim como navegar era preciso, alimentarem-se também era.

-Amigo, somos brasileiros e queremos ir a um bom restaurante. Pode nos indicar um?
-Claro, será um prazer, amo a sua terra. Minha filha está fazendo direito lá na Instituição Toledo, em Araçatuba, Estado de São Paulo. Recomendaram-me por tratar-se de uma conceituada faculdade.

Das palavras aos fatos, chamou um táxi e disse ao motorista:

- Leve estes amigos até a rua Marquês de Fronteira, 37, restaurante Elevem e, por favor, diga ao Maitre que eles são meus convidados. Não esqueça dessa recomendação.
Heloisa e Eduardo se olharam... Será?

O táxi já estava com a porta aberta, esperando. O jeito foi aceitar a oferta.
Não era um restaurante dos mais bonitos, sofisticados mas tinha um salão de jantar confortável e moderno. Tinha a melhor vista da cidade para o rio e para o castelo e uma cozinha inspirada no Mediterrâneo.

_Heloísa, teremos que tomar vinho nacional.

Ah! Não quero nem saber, eu quero um.... desgraçado!

Tomaram o vinho nacional acompanhado pelo bacalhau mais apetitoso, cheiroso, maravilhoso de suas vidas.

-Helô, menina, vai ficar uma grana; só valeu a pena porque durante toda a refeição eu estava olhando para você e pensando:

-Quem é mais linda, ela ou aquela vista do rio?

-Por favor, veja a despesa.

-O que ! Que despesa, querem ver-me no olho da rua? Vocês são convidados do dono do restaurante. Aquele que chamou o táxi é o proprietário do restaurante.
Foram para o hotel e aquele champanhe da geladeira dele introduziu uma linda noite de amor. O da geladeira dela, deu o arremate romântico que faltou devido à sofreguidão com a qual se atiraram sobre os límpidos lençóis.

Retornaram ao Brasil. Ele para o hospital onde era cirurgião geral e ela para a universidade, onde era mestra em Filosofia. Mas a casa onde passaram a residir, era a mesma.

E a vida caminhava como pediram a Deus, até o dia no qual ela teve um problema cardíaco, em plena sala de conferência para um grupo de professores Escandinavos.
Era caso de cirurgia urgente. Foi chamado pelo interfone, o cirurgião chefe, pois o caso era complexo.

-Doutor Eduardo, comparecer urgente na sala de cirurgia número três.

Eduardo saiu na correria, preparou-se para a intervenção e:

_Meu Deus, você?

Alegou as razões pelas quais não poderia fazer o atendimento, não estaria emocionalmente apto para intervir naquela paciente.

_Doutor, não dá mais tempo de convocar outro cirurgião, ou é o senhor ou ela morre.
Quando gritaram alto pela segunda vez, pedindo o uso do desfibrilador, ele, superando-se, deu o melhor de si e mais ainda , pediu, não por sua gente, mas por ela....e por ele mesmo.

Ao sair do hospital, o dia estava radiante. Ele não percebeu.Tinha pedido, foi atendido mas estava envergonhado.

Havia pedido muito mais por ele.... Não poderia mais viver sem ela.