Professores do mundo uni-vos! Os alunos brasileiros já podem copiar seus trabalhos científicos da internet em buscador específico.
O homem avança, mas teme a si mesmo. Desconfia de suas criações e dessa vontade do novo, porque desconfia de si próprio. Cria para o bem, e nem só para o bem utiliza suas invenções.
O Google, página que auxilia a localizar quaisquer assuntos hospedados na internet, enfim coloca à disposição dos brasileiros, um localizador exclusivo para publicações acadêmicas.
Finalmente essa ferramenta fantástica, que estava disponível nas línguas inglesa, chinesa, norueguesa, dinamarquesa, finlandesa, e etc., já pode ser encontrada em português, visando mais especificamente o Brasil.
A grande vantagem é que aqueles que não estudam em grandes capitais, ou próximos a elas, tinham pouca possibilidade de conseguir o material necessário, a baixo custo, e terminavam por simplificar suas produções estudantis.
Mas, quando algo admirável é posto em benefício dos que necessitam, logo surgem os espertinhos e as discussões sobre o que os espertinhos farão com aquela maravilha.
Para os que são contra o Google Scholar, devido à existência de alunos indolentes, fica a pergunta: alunos nunca copiaram seus trabalhos de livros, e, aqueles que têm mais recursos financeiros e menos disponibilidade mental, nunca contrataram pessoas para lhes fazer as pesquisas e produções?
O jornalista pernambucano, Luiz Beltrão, pioneiro em estudos de folk-comunicação no Brasil, fala de interessante ponto de vista do grande filósofo Sócrates sobre o registro de estudos em, pasmem!, livros:
“Tal coisa tornará os homens esquecidos, pois deixarão de cultivar a memória; confiando apenas nos livros escritos, só se lembrarão de um assunto exteriormente e por meio de sinais, e não em si mesmos. Parecerão oniscientes e geralmente nada saberão; serão desagradáveis companheiros, tendo a exibição da sabedoria sem a realidade”.
A informação acima foi retirada da obra Sociedade de massa: comunicação e literatura (ed. Vozes, 1972). Um livro! Quem faz cursos acadêmicos sabe o que seria fazer trabalhos acadêmicos sem o registro em livros de estudos anteriores ao seu. Ou melhor, talvez saiba o que não seria.
Muitos homens sonham em publicar um livro com suas obras, científicas ou não.
A internet facilitou e barateou enormemente esse desejo, enquanto outros passaram a ter acesso a assuntos e produções inimaginadas e descortinadoras de horizontes.
Se as páginas eletrônicas vieram tornar ainda mais fácil o serviço de cópia por parte de alunos preguiçosos, tornaram também mais fácil o serviço de um professor que quer descobrir de onde o seu aluno, ou alguém contratado por seu aluno, copiou trechos de produções alheias como sendo suas.
Isto porque, a mesma ferramenta que encontra trabalhos encontra suas cópias. E, mesmo hoje, não é difícil saber de antemão qual a verdadeira capacidade de produção de um determinado aluno e se aquele trabalho se harmoniza com suas capacidades.
A grande dúvida fica por conta da legitimidade do trabalho pesquisado e mencionado, e, aí, a discussão é boa, mas é outra.
Mas evolução é evolução.
Render-se é a palavra de ordem.
Portanto, professores do Brasil, uni-vos e muni-vos de ferramentas modernas o suficiente.
Haja vista a referência às idéias de Sócrates, restará às universidades modernizarem-se e aceitar como legítimas aquelas pesquisas que serão resultado de boa navegação eletrônica, tanto quanto aceitam as pesquisas resultantes de boa bibliografia.
Curiosidades:
* Esta crônica foi o primeiro indício, com certeza inconsciente nesta autora, que apresentou a vontade de aceitação dessa veloz modernidade.
* Esse indício redundou na vontade de que a Academia Araçatubense de Letras venha a aceitar em seu quadro escritores de outras mídias (que não apenas os "motoristas" do veículo livro).
* Vontade que está para ser vencida, mas que o tempo, independente do meu desejo, vingará.
* Este artigo publicado na Folha da Região em 18 de junho do início do terceiro milênio.
* Fica aqui registrada também a minha indignação contra a metodologia das monografias retrógradas e elitistas, que permitem que qualquer aluno tenha as suas ideias "aproveitadas" por seus "doutores", enquanto os discentes são condenados ao limbo de não desenvolver as próprias ideias sob alegação da pretensa incapacidade dos "aproveitados".
* Fica também o meu agradecimento à honestidade dos meus mestres diretos.
* Fica o registro à não tanta honestidade de alguns que se valem das inscrições em congressos e sistemas análogos para "desenvolverem" as "próprias(?)" ideias.