![Texto de José Hamilton Brito](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0miIEWms1qXCWJRHRIaPRVL1NPER2XIsjAgwCIYSvkkxkTOnS5pTmNpiGxoZMfDoDUh4GlAX3rJCnx7W2EqCid40mm8fK6UQ8X8xNZEE03RLLvJTVbO6fPr3eJntHQToE-nhKBz1XIoJp/s1600/texto_hamilton2.png)
O facebook e blog são ferramentas; às vezes elas escapam das mãos e causam estrago. E como são pesadas, se atingem os pés ou a cabeça, dói pra dedéu.
Foi o que aconteceu...
Cristina, enfermeira padrão de um grande hospital de uma cidade do sul do país, casada, mãe de dois filhos adolescentes, por um destes desígnios da vida entrou no blog de Riberto, advogado aposentado, divorciado residente em Manaus. Como se vê, uma no Arroio Chui e o outro longe dali. Comentário vai, comentário vem e descobriu-se uma afinidade: o amor pela literatura, sobretudo pela poesia.
Um dia uma proposta: quer duetar uma poesia minha, pergunta ela.
Ele aceitou.
Por email uma foi enviada, poesia de amor; havia algo mais “ escrito” nas entrelinhas. Há sempre em todas as poesias de amor algo mais escrito entre elas. Riberto entrou no espírito da coisa, caprichou nas rimas e a cadência foi tanta que atingiu em cheio o coração de Cristina.
Correspondência vinda carregada de paixão e voltando com sobrecarga.
Coisas como: estou faminta de troca, de identificação com um homem que queira e se disponha a ler o meu coração ou ainda: tenho o amor que encontra no sexo uma de suas mais belas e concretas formas de expressão – a paixão.
O que começou com simples comentários no blog atingiu a ambos de forma avassaladora; sem ao menos saberem como eram fisicamente, uma paixão veio como um tsunami. Precisavam consumá-la; entregarem-se era preciso.
Ela propôs encontrarem-se; ele titubeou...ela percebeu.
Mas como ele poderia aceitar sem pensar bem nas conseqüências? Ele, divorciado e só, nada teria a perder; poderia ganhar um coração cheio de amargura para carregar pela vida a fora. Ela, no entanto, se percebessem que não poderiam mais viver separados, teria a coragem necessária para dar às costas ao marido e aos filhos adolescentes, foi-lhe perguntado...foi a vez dela titubear.
Titubeou, mas ficou magoada; não queria ouvir aquela pergunta. Ninguém gosta de perguntas para as quais não tem resposta.
Estabeleceu-se o conflito; as dúvidas que antes eram sufocadas pela alta temperatura erótica dos emails e msn com frases carregadas de palavras fortes, às vezes até chulas, mas que davam a real imagem da orgia virtual que os dois aprontavam, sobrepuseram-se a tudo.
-Riberto, eu preciso fazer algo para mim mesma. Eu não posso mais protelar porque ser feliz e cuidar de mim mesma é algo urgente. Ao cuidar do meu coração estou também de alguma forma cuidando das pessoas a quem amo e que me amam. A minha hora chegou e é agora. Isso, no entanto, não significa que estou disposta a magoar, a ferir o homem que dedicou toda a sua vida a mim. Temos uma relação muito prazerosa, ele me valoriza demais e me cerca de amor....confia na relação sólida e bonita que a gente teve e tem.
Riberto estava a ponto de correr ao encontro dela e que fosse lá o que Deus quisesse, mas ante ao descrito por ela, um fato se agigantava: ela queria muito, mas balançava entre dois sentimentos fortes: a gratidão ao marido e o amor por ele...e que talvez nem amor fosse e sim uma desgraça de uma paixão sem tamanho.
Homem vivido sabia que a fogueira da paixão tem poucos gravetos.
-Cristina, loucura eu não vou fazer. Não vou ser o artífice, não vou ser a causa da sua desgraça. Precisamos dar um tempo para nos dois.
-Riberto, o que não posso fazer é me machucar, ir do céu ao inferno tão rapidamente. Não é justo. Obrigada por colocar-me frente à realidade e realmente não existe espaço para amar sem querer estar junto e estar e ficarmos juntos, pelo menos por agora...
-Cristina, talvez seja melhor, mesmo que sofrendo, colocar um ponto final na nossa história.
_Façamos assim Riberto, por enquanto, nada de ponto final...coloquemos um ponto e vírgula.