Marcelo de Souza
Eu costumava andar por aí, meio sem rumo, sem saber o que fazer. A necessidade de ter algo para fazer é um grande inimigo, mas tem gente que acha estiloso ser entediado. Talvez fosse, nos anos 80.
Muita gente não se atualizou. Eu mesmo tenho alguns vícios que carrego até hoje. Adoro ouvir discos de vinil, uso jeans, camiseta e All Star como se não houvesse amanhã e ouço bandas velhas.
Podem até me censurar, mas não exagero. Até porque, tudo que era baixa renda antigamente, hoje é cool. All Star era tênis de pobre, Hering era camiseta de pobre usar na escola, naquela combinação ridícula de calça de tergal e camiseta branca, e usar calça rasgada era coisa de marginal. Tudo isso é grife.
Mas, espera aí, divaguei de novo. Isso não tem nada a ver com o primeiro parágrafo deste texto. Estava falando do tédio. é, aquele velho conhecido.
Nos anos 80, com o pós punk e o surgimento das tribos góticas, o tédio virou estilo. Alguns playboys tentaram copiar e formaram a turminha dos "darks", gente classe média que usava roupa preta de grife. Foram os primeiros emos. Não confunda gótico com darks/emos. Não há relação entre eles.
Não ter o que fazer era um drama e virou tema de música, com Biquini Cavadão (Sentado no meu quarto, o tempo voa, lá fora a vida passa e eu aqui à toa...) e Legião Urbana (Tédio com um T bem grande pra você...). A juventude oitentista parecia fadada à falta de opções, afinal as notícias que vinham de fora mostravam que o mundo girava pela Europa, EUA e Japão.
Não é à toa que bandas brasileiras como Sepultura e Viper faziam sucesso lá fora antes de serem conhecidas no Brasil.
Mas tudo isso passou. Ser entediado agora é sinônimo de ser careta, sem amigos, mal relacionado, etc, etc, etc. O mundo se conectou e nós viramos escravos da nova ordem, mas pense bem, continuamos sem opções.
Eu mesmo tenho 456 "amigos" no Facebook, mas nem metade disso se relaciona comigo. É claro que há amigos de verdade e todos os que estão na minha lista de amigos estão lá porque admiro e gosto. Se você está na lista, parabéns, se não, tente me adicionar, quem sabe eu não goste de você.
Resumindo: temos muito a fazer, mas tentamos copiar o que não foi feito antes. Ser cool é mais do que usar a roupa da moda. Não ter o que fazer não é um drama e nem precisa ser estilo. Só precisamos lembrar de viver, cada um à sua maneira e todos em harmonia.