Valdir Silva Júnior
Dois, três, quatro passos. Isto não é poético, não traz sorrisos aos olhos, não inspira a ser feliz. Não siga minhas palavras e não copie meus atos, eles não salvarão sua alma, seu fim, seu legado imperceptível. Eu já fiz o que podia, já livrei você do mal, já abri seus olhos, tentei parei o mundo para que junto comigo você saísse e entendesse o que sinto, mas nem você nem ninguém foi capaz de liberdade.
Não aceito porque não pertenço, e só percebi isso o dia em que resolvi parar de pensar. Só naquele momento, em que meus pés caminhavam de encontro ao ponto final, eu vi por todos os anos que não vi.
Por todos os dias em que subtraí um pouco de mim para fazer você feliz, por cada caminho que segui sem querer apenas para ver onde você me levaria, eu me arrependo. Pois sei que você nunca abriu as portas sem que eu batesse, nunca iluminou a estrada por onde andei todos estes anos, em meio a tempestades e precipícios que fui obrigado a me jogar.
Não lhe perdoo porque fui cego o suficiente por me deixar levar e iludido segui por ambição, tentando descobrir algo que não existe. O tempo agora é de dizer boa noite e adeus à você.
Chega de farsas e daqueles sorrisos que contagiam, chega de pensar que tudo que eu vi um dia seria alterado, chega de seguir de mãos dadas com você, calada e muda, sedutora e perversa, que insinua mas não demonstra. Eu agora me separo e respiro aliviado por ser impossível você me acompanhar.
Você é patética, ao ponto de me fazer rir, porque não esperava que eu seria capaz de te trair desta forma, e hoje eu vou rir de tudo aquilo que me fez. Se existir arrependimento você vai sentir, por tudo.
Cinco, seis, sete passos. E agora? Você me diz o que? Me segure e me mostre por onde saio, me demonstre todos aquelas soluções que eu nunca vi, ou separe momentos que me segurem, pois para cada momento lindo que você me reservar como resposta, eu lhe jogo outros mil que você me devolveu sem razão, amputando e cortando minhas asas assim que comecei a voar. E já que não pude voar, você não vai conseguir me livrar de agora, não é? Você é patética!
As pessoas não respiram ao seu lado, não enxergam, não lutam, não são atiçadas por nada alem daquilo que você finge dar a elas, eu tenho dó, e infelizmente não consegui tirar das suas mãos aqueles que gostava, são fracos demais para isto. São alienados e subtraídos de suas reais funções por você.
E agora que eu terminei de me retratar a você da maneira que eu sempre quis, sem buscar te entender ou raciocinar a respeito da sua existência, eu me liberto, pode me deixar ir.
Talvez eu procure algo que guarde comigo, para te fazer lembrar nestes 33 anos em que vive com você, alguns deles sem minha vontade, outros procurando por respostas as perguntas que me fazia, e outros que apenas deixei passar, que alias, foram os melhores, pois você não me incomodava.
Mas o tempo passou, e hoje em dia o caminho se tornou escuro demais e suas respostas as minhas perguntas ocas e sem sentido. Se eu não te entendo mais, não te quero comigo, se eu não te amo mais, não te quero comigo, e se eu não te enxergo mais, o melhor é fechar os olhos, e lá vou eu.
Oito, nove, e o décimo passo. Meu ouvidos não lhe ouvem mais, meus olhos não te vêem mais, e meus dedos não tocam os seus. e um filme de lembranças flutua enquanto eu digo adeus, enquanto eu entendo o tão curto foi meu romance com você e o quanto eu sofri ao seu lado por tantos anos em linha reta, sem me deixar buscar novos rumos.
Agora que parti não lhe absolvo de culpa, pois você sim, é responsável por nossa separação, e por eu ter tomado esta atitude. Talvez um dia você amadureça ao ponto de não mais fazer de todos o que fez comigo, talvez um dia você mesma pare de existir e poderemos ser feliz sem mentiras.
Meus olhos se fecharam e nem que eu quisesse te ver, eu seria capaz a partir de agora.