Matheus Farizatto
“Tá na pilha de roupas para passar”, lembrei. “Mas não serve mais”, me conformei. Enquanto comia, ignorei o papo do colega e pensei no ano que passou, em mim e como cheguei aqui: no Tamanho M.
Todo fim de ano vamos eu, minha mãe e irmã às compras de novas roupas para os próximos doze meses – tudo com patrocínio de papai – Thanks, Claudinei! Até dezembro de 2010, usava camisetas P e calças 38. Foi 2011 o ano do Tamanho M para as camisas. A mudança rolou de forma despercebida e até as calças agora são 40. Mal estar com meu corpo? Nem. A maior mudança eu senti em meu jeito de pensar.
“Oi, Matheus. Quanto tempo! Você deu uma engordadinha, hein?”, ouvi a cada dia ímpar deste ano. “Poxa, Má, mas vocês terminaram e voltaram outra vez?”, ouvi em todos os dias pares. “Nossa, bacana trabalhar lá. Posso te mandar meu currículo?”, em todos os finais de semana. Vivendo em Tamanho M, passei a ser mais exigente e também a ouvir mais. Nunca pensei que usaria M.
Olhando para a minha nova etiqueta, percebi que quanto mais eu tenho, mais quero. E reclamo. Reclamo demais. Nossa! Acho ruim sempre que não consigo fazer algo que planejo. É chato conviver com alguém que reclama muito, eu sei. É um defeito deste código de barras aqui, mas etiquetas podem ser rasuradas, certo? Me passa a caneta que reforçarei o novo Tamanho M.
No M, levo a vida menos estressado. Esse tamanho não marca minha barriga, não fica pegando, não me preocupo com o que os outros pensam. Passeio com os que me acrescentam.
Nesta medida, consigo dosar minhas prioridades. O que gosto ou não, aceito ou não, o que eu acredito. Em meu guarda-roupa, descartei formas pequenas que não usaria mais. Há cabides livres e outros ocupados com novos estilos e cores. Estas caem melhor em mim e são todas Tamanho M.