Matheus Farizatto
O costume surgiu ainda na infância. Estudava de manhã e à tarde eu estava livre. Uma bênção. Era chegar da escola, almoçar, fazer as tarefas e – sagradamente – dormir. Um cochilo no meio do período. O ritual diário “Eu durmo à tarde, sim!” ocorria também aos finais de semana e seguiu assim até a adolescência. Até eu arrumar meu primeiro emprego.
Trabalhava de domingo a domingo com direito a um dia de folga na semana. Estudava à noite.
Na minha folga? Entre outras coisas, dormia à tarde. Não sou anêmico, não. Esta não-atividade era um tipo de “Viverei até os cem anos” e durava pouco mais de uma hora – prefiro até dizer 60 minutos, pois dá a impressão de durar mais.
Nos últimos meses fui a mais casamentos que festas badaladas. Nem digo que prefiro um a outro. Faço o perfil mais sossegado: filmes e livros, música e bate-papo em casa – mais comidas e bebidas, menos gente.
Vejo amigos casarem e organizarem “Chá-bar” ao mesmo tempo que entro de cabeça na vida a dois e passo a dormir todas as noites em cama de casal. Sem igreja – amém! – nem promessa de “até que a morte os separe” – glória a Deus, Senhor! – há alguns meses, as questões e mudanças que aparecem com a nova rotina do “morar junto” toma conta de 85,2% dos meus pensamentos.
A tarefa é desafiadora e meu único aviso para quem gostaria de dividir o mesmo teto é: dá trabalho.
A mudança, como qualquer outra, requer adaptações e tentativas. Não há receita a seguir e quanto mais regras impostas por amigos, igreja, sociedade ou parentes, pior é.
E este é o grande lance na vida de casado: bom-senso. Nada engessado nem empurrado amídalas abaixo.
Depois de cerca de 90 dias na nova vida, passei no período de experiência, ou melhor, passamos. Mas quem disse que isso conta? Falam que “o primeiro ano é o mais difícil”.
Momento clichê – A vida é uma nova chance diária e, enquanto nada é definido, todas as opções são válidas.
Em meio a questionamentos, alegrias e adequações da nova forma de viver a dois, escrevo este texto após um ótimo fim de semana na casa dos meus pais. E digo que a melhor parte em aceitar as coisas novas é saber que seria idiotice abrir mão de velhos hábitos como um bom cochilo em um domingo à tarde. Acabei de acordar. Boa semana.