Rodrigo Ziviani
Que Lady Gaga que nada! A ondinha agora é Adele, cantora britânica acima do peso que continua vendendo horrores de seu disco de corna, "21". Prova disso é ver até as faxineiras cantarolando "Someone like you" no ponto de ônibus. Só tem um detalhe: Adele estourou no Brasil depois que a música entrou para a novela das oito (hello, Griselda!). Antes disso, a maioria ouvia "Rolling in the deep" na FM sem fazer muita questão.
Assim, Adele entra para o time de cantoras consagradas momentaneamente pelo plim-plim. Lara Fabian, por exemplo, viveu alguns meses de glória depois que "Love by Grace" foi escolhida como tema da personagem de Caroline Dieckmann, vítima de leucemia. Nos anos 80, Tracy Chapman embalou o romance de Regina Duarte e Antônio Fagundes com "Baby can i hold you" e virou febre nos bailinhos adolescentes.
O caso mais trágico e emblemático é o de "I wishing on a star", das Cover Girls, que tocava quando o casal Daniela Perez e Guilherme de Pádua enchia a tela. Daniela foi morta a tesouradas por Pádua no começo da década de 90, com a novela no auge. E a música, que passou a tocar até em quadra de escola de samba, foi apelidada pelos menos sensíveis de "o melô da atriz assassinada".
O que diferencia Adele dessa turma é que a cantora virou unanimidade também no exterior, sem novela, quebrando recordes. A pergunta é a de sempre: até quando?
Os mais otimistas dizem que Adele vai longe porque tem talento e boa voz. Os pessimistas, claro, dão mais 15 minutos. Adele é uma dessas cantoras que acontecem no momento certo e conseguem, mesmo sem querer, mudar o cenário musical. Com um punhado de canções sobre o término de seu último relacionamento, ela nadou contra a maré das estrelas pop e fez sucesso vestida, sem arriscar um passo de dança e cantando a dor do amor não correspondido. Quem nunca teve um?
Musicalmente, a moça é muito competente. O problema de Adele está na imaturidade emocional, talvez este o motivo de ter sido largada pelo ex. Em suas entrevistas, entrega fácil a falta de autoestima e afirma, em alto e bom som, que deixaria tudo o que conquistou para voltar com o namorado, se ele quisesse. Fumante inveterada, declarou que prefere perder a voz a parar de fumar. Resultado? Adele teve hemorragia nas cordas vocais e precisou de cirurgia. Só agora ensaia uma retomada da agenda de shows e as gravações do próximo disco.
Adele é boa, mas teve sorte. Pena que não se dê conta disso. É quase uma Amy Winehouse às avessas. Indiferente ao próprio sucesso, pode ser esquecida, simplesmente porque não se interessa em tomar as rédeas da própria vida, da carreira, e fazer o que é certo.
Eu já cansei. Até porque conheço Adele desde que lançou "19", há um bom par de anos, e não suporto ver esse auê em torno da fofinha só agora. O tempo vai dizer se vale a pena manter "Set fire to the rain", a minha preferida, no meu mp3. Pelo menos até a próxima novela.