O Excluído
Vejo a doce noite se aproximar, enquanto, lá dentro, conto as cicatrizes aveludadas que marcam meu rosto. Hoje os céus choram, gota a gota, que vão descendo em uma incessante corrente.
Choram, como se quisessem dizer-me alguma coisa, como se quisessem revelar-me o mais importante segredo.
Choram como se fossem rejeitados e implorassem por abrigo ou simplesmente um ouvido que não julgue. Choram, apenas choram, pois, não tem mais nada para dizer.
Quem dera eu poder entender porque o céu chora!? Quem me dera poder compreendê-lo a ponto de traduzir suas palavras!? Eu apenas continuo ouvindo-as cair, ritmadas, compassadas, como musica para os meus ouvidos.
Eu apenas as ouço cair, gota a gota, como uma canção que não possui letra. Eu apenas as ouço como se estivem pedindo para que eu fale. Mas, falar o quê? O que eu poderia falar? Queria eu fazer poema à altura delas!
Continuo ouvindo-as, gota a gota, que agora, caem mais devagar. Continuo observando-as e vejo as rosas crescerem na colina e até mesmo no asfalto. Continuo observando-as e vejo um sorriso se formar no chão na minha frente, como se fosse uma mensagem para me alegrar, como se fosse um recado de uma pessoa que adoro.
Vejo um sorriso mostrando-me que tudo é simples, que, nem sempre os mais belos versos e as mais ricas rimas podem expressar o que um simples gesto quer dizer. Vejo um sorriso mostrando-me que é hora de sorrir, pois, a vida é curta demais para se preocupar tanto!