sábado, 26 de maio de 2012

É a mãe


Ventura Picasso

“Em Brasília, 19 horas”; Contra a vontade da Jovem Pan, a Voz do Brasil está no ar a mais de 70 anos, sempre levando as informações dos Três Poderes.

Hay dias que no se lo que me passa*... O meu jornal diz que a vereança fez muita reunião sem produzir. De viva voz, um lá, alegou que fez mais de cem encontros na periferia, mas não encaminhou nenhum projeto de lei.

Nessas reuniões se busca seduzir, alienar e manter a base eleitoral do espertalhão. Enquanto isso a família inteira do tal desfruta do mandato, mandato esse que é uma mãe.

A festa consumista do dia das mães, um sucesso, já se foi. Os comerciantes exultaram o desempenho de seus caixas. O faturamento diário desta data se iguala ao do dia de natal. As mães estão agradecidas, desde aquelas que receberam de seus filhos um Sonho de Valsa, até as que receberam uma cobertura em Ipanema, ou uma visita na prisão.

Quanto sacrifício dispendido por essas mulheres, heroínas, ao prepararem suas crias para o futuro. Do prezinho à Paulista, à Politécnica ou ao Mackenzie. Mas, como dizia a parteira: “Da barriga de mulher ninguém sabe o que pode sair”. É a mãe! Mães arrependidas.

Baco, educadíssimo, era primeiro sargento na Força Aérea. Quando ele se dirigia a um subordinado chamando-o, carinhosamente, de ‘meu filho’, os seus subalternos sabiam que o engajado conferiria má fama à mãe do inquirido. Mãe é mãe, mãe de tira ou de bandido, seja lá o que for, como for ou por que for. Pra muitos políticos, mãe aconteceu, daqui pra lá ou dela pra cá, a festa passou já podemos falar: Mãe pode ser até um mal necessário.

Aquela que formou um pimpolho delinquente, ao vê-lo pulando o muro do vizinho para roubar um galo, ficou feliz: “Esse está pronto para enfrentar a vida”, graças a Deus.

A mãe do engenheiro, orgulhosa, quando viu que o filhinho querido assumiria o cargo de secretário municipal, imaginou: “Agora sim, esse departamento vai funcionar direitinho!” Mas, o cara não pegou na coisa, o negócio dele era servir ao prefeito e não ao povo da cidade. Afogou-se, privatizou-se!

A pobre mulher abandonada pelo marido, batendo roupa para sobreviver. De repente, se prostitui. É a mãe. Se ela tivesse descoberto essa especialidade há mais tempo estaria rica. Ligadona e saudável viveria na base da pílula com preservativo, certamente, não seria uma mãe de secretário de prefeito, puta da vida! Prostituta sim, mas respeitada.

O ladrão de galinhas e o secretário engenheiro, no mesmo galinheiro, são adeptos da ‘oração da propina’, todos os domingos às 7 horas da noite, agradecem ao golpe certeiro que rendeu ao grupo um saco de dinheiro. É tudo uma total insensatez*.

“Em Brasília, 19 horas”!

*Cotidiano 2 (Vinícius/Toquinho). 2246 – Foto: Käthe Kollwitz http://www.artgallery.nsw.gov.au/media/collection_images/9/9351%23%23S.jpg