Cristiano G. Dias
Dois em cada dez jovens universitários (cerca de 22%) estão sob risco de desenvolver dependência de bebidas alcoólica.
O mais grave é que a maioria acredita estar acima dos malefícios do consumo abusivo de álcool, o que contribui para que a dependência se alastre de maneira silenciosa.
Os dados, alarmantes, fazem parte do 1º Levantamento Nacional Sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas, feito entre universitários das 27 capitais brasileiras e coordenado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Para Arthur Guerra, um dos coordenadores da pesquisa, professor do Departamento de Psiquiatria da USP e também da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), a aceitação da bebida entre os universitários é tão grande que a maioria acha que está imune aos problema causados. "Trata-se da dependência silenciosa dos universitários. Já desconfiávamos do uso excessivo, mas não tínhamos essa constatação. Ficamos impressionados. Praticamente todos dizem que fazem uso moderado de bebidas alcoólicas e acham que estão acima de qualquer risco. É um padrão bastante grave", alertou.
Outro ponto importante observado pelo estudo é o que os pesquisadores chamam de "beber pesado episódico", ou binge drinking, em inglês. O termo remete ao consumo de cinco ou mais doses de bebida alcoólica na mesma ocasião.
De acordo com Guerra, os universitários brasileiros do sexo masculino tomam até cinco latas de cervejas em duas horas, enquanto as mulheres ingerem o conteúdo de quatro latas de 350 mililitros no mesmo período.
Perigos
Um hábito antes desconhecido pelos pesquisadores relaciona o nível de estresse das mulheres e a combinação de substâncias perigosas em festas universitárias.
O uso de tranquilizantes associado ao consumo de álcool ou cocaína foi considerado fator surpresa na pesquisa, já que 12% das estudantes (principalmente do Sudeste) admitiram ingerir comprimidos de calmantes na tentativa de desacelerar os batimentos cardíacos. Entre os homens o índice é de 5%.
"O uso repetitivo pode criar quadro de dependência. Logo torna-se doença e os dependentes viram verdadeiros escravos das drogas", concluiu Guerra.
Especialista diz que mudanças devem partir das instituições
O estudo finalizado na metade do ano passado concluiu que, embora haja existência comprovada de drogas lícitas, ilícitas e psicoativas dentro dos campus das universidades, não existe exigência legal na rede de ensino do País que obrigue a criação de programas com focos de prevenção em relação ao uso demasiado de substâncias tóxicas entre os universitários. De acordo com a pesquisa, a iniciativa depende da vontade política e pedagógica das instituições públicas e particulares.
Das universidades que participaram da coleta de dados, apenas 28% apresentaram programas voltados ao consumo de drogas dos estudantes, porém, sem delineamento objetivo que abranja múltiplas frentes de trabalho e não apenas o aluno.
Guerra salienta o valor de uma possível parceria com o governo para frear o aumento do consumo irresponsável de drogas e suas consequências.
A pesquisa serve de base ao governo e às instituições que não têm programas de prevenção. É preciso oferecer palestras e orientações para proibirem o uso de drogas dentro de universidades, além de se unirem para buscar líderes entre os estudantes. Até porque é de interesse dos jovens saber das consequências maléficas que podem comprometer a vida sexual e afetiva deles, além do desempenho escolar", avaliou.
Fonte: ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Droga