sábado, 3 de novembro de 2012

Os novos maridos


Matheus Farizatto

“Casa comigo que eu te dou casa, comida e roupa lavada”. Seria bom demais saber que esta jamais seria a moeda de troca de uma mulher para seu pretendente. Apesar de esta devoção toda estar menor hoje, ainda há muitas que dizem “sim” felizes da vida por concordar em cozinhar todos os dias.

Enquanto elas batem cabeça na tentativa de descobrir quais são suas reais “obrigações” e possíveis prazeres no casamento, os homens parecem ter isso muito bem digerido: o que muda é que agora quem dobra as minhas camisas não é mais a minha mãe, mas continua não sendo eu.

A última que li dizia que o maior motivo de os homens casarem é a busca pelo “sossego de uma casa no fim do dia, uma vida menos agitada”. Faz sentido, afinal, ainda é minoria os homens que projetam sua imagem no altar para que o universo o envie isso de volta como desejo realizado.

Entre esta e outras, homens parecem sempre mais certos do que serve ou não para eles. E não há livro, mãe ou revista para o público masculino que dite regras que os convençam – talvez um amigo de bar consiga. Difícil. Mesmo o conceito de “casa comigo que eu te dou...”, nada feito. Eles têm convicção de que sempre há alguém para dar algo a eles assim que pedirem.

Talvez há vinte anos a função “mulher de senzala” funcionasse. Mas depois do que ouvi de duas amigas, imagino que esta aí começou a perdeu força há, pelo menos, dez anos.

A fôrma da lasanha de domingo agora pode ficar com água na pia e ser lavada só na terça-feira à noite. A massa era congelada, preparada em microondas? Tudo bem. Se não houver camisa passada, ele agora coloca uma camiseta mesmo, ou até topa a amarrotada por baixo do paletó. Pegam leve sobre “casa, comida e roupa”. Liberam até o pagamento da empregada. Mas eis que vieram as novas exigências e, óbvio, não são sobre eles mesmos.

As confissões das duas amigas – uma casada há pouco tempo e outra que me entregou o convite da cerimônia/mapa-da-festa há poucos dias – são sobre a pressão dos jovens maridos para que elas os sirvam com suas vaidades. E só. “Aquerdita?”.

Loucas pela manhã, ao saírem de casa para não se atrasarem para o trabalho, a pergunta “você fez café?” deu lugar a “você não vai arrumar este cabelo para ir trabalhar?”. A roupa justa agora é compreensível se combinada com bom gosto a uma maquiagem que valorize a recém-recebida esposa. Que esteja de acordo com seu cargo na empresa.

“Eu até entendo que haja menos comida caseira, pois sua rotina está puxada, minha linda, mas veja se consegue fazer um exercício, pois está bem cheinha”, e coisas do tipo. Dá-lhe roupa acumulando para lavar, mas tudo bem para os novos maridos.

Será que um dia este jogo vai realmente virar e quem deverá pensar bem no que pode oferecer passará a ser o homem? Acho mais fácil o casamento conservador ser reconhecido pelo Papa como instituição falida e sem fundamento.

A cobrança pela vaidade feminina sempre esteve no topo da lista dos barões, mas vista grossa para as tarefas das diaristas é coisa mesmo dos novos maridos.