terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O papa é prova


Matheus Farizatto

Estou sozinho nesta ou as pessoas realmente não estão tão surpresas com a renúncia de Bento XVI em plena Quarta-feira de Cinzas? Sim, a notícia de que o agora ex-papa abdicou do posto foi inesperada, mas não ouvi um sequer “gente, estou inconformada!” daquela vizinha católica que passa as manhãs de domingo na igreja do bairro.

A imprensa repercute o assunto enquanto faz previsões sobre o novo líder da Igreja Católica, mas também não há manchetes que usem palavras como “polêmica” e “escândalo”. Será que o fim do catolicismo tradicional é algo já reconhecido, porém, não assumido?

Pessoas se casam na Igreja sem ao menos saber a ordem daquela sequência de sinais da cruz feita quando o padre solta o “proclamação do Evangelho”. Vai! Começa na testa, passa para a boca e termina no peito!

O catolicismo, como muitas outras religiões, simplesmente não faz sentido. Condenar o uso de camisinha, a prática do aborto, da eutanásia e das relações homossexuais é assinar o Atestado de Sem Noção quando a proposta é recolher dízimos para manter o ouro todo do Vaticano. Trata-se de um caminho sem volta e Joseph Alois Ratzinger, aos 85 anos, descobriu isso.

O episódio me lembrou o professor de um curso de comunicação que fiz. Ele dizia que hoje é impossível o profissional desta área negar o uso de tablets e smartphones. Eu resisti. Por muito tempo mantive o celular apenas para efetuar e receber ligações, enviar e receber mensagens – ah, e a agenda de contatos que era ótima!

Um dia, mordi a maçã. Comprei o iPhone. Entre os maiores motivos para eu abdicar daquele teclado analógico, esteve a necessidade do uso da internet em duas situações com o presidente da empresa em que trabalho e eu ter que responder: “vou ligar o notebook pois meu celular ‘está’ sem rede”.

Por quanto tempo conseguimos rejeitar comportamentos, ideias e situações que surgem e funcionam naturalmente graças às mudanças do mundo? Esperto será o papa que encontrará uma brecha na Bíblia para dizer que “um homem deitar-se com outro homem” é parte da natureza humana. Ou que o sexo é uma forma saudável de se obter prazer sem a meta procriação.

Há igrejas evangélicas na capital paulista que já realizam casamentos gays. Resultado de pastores e bispos evoluídos espiritualmente? Não. Da necessidade de manterem suas contas bancárias gordas diante de uma sociedade que cada vez menos se encaixa em regras criadas no interesse destes caras.

Bento XVI, enquanto papa, apenas desculpou-se pelos casos de pedofilia comprovados em países como Estados Unidos, Irlanda, Alemanha e Bélgica, envolvendo colegas do clero. Entre os participantes do conclave para a escolha do novo líder religioso, está Roger Mahony, um cardeal americano que reconheceu ter acobertado centenas de casos de abusos cometidos por padres de sua região desde os anos 80. Este “ser” chegou a transferir os tarados para paróquias em outros Estados para dificultar as investigações. Agora o fofo vai dar seu voto na escolha do novo papa.

Entre outros, tem também o padre mexicano morto em 2008, Marcial Maciel, fundador da ordem Legionários de Cristo, que engravidou várias mulheres e violentou discípulos, coroinhas e até dois de seus filhos.

Há os seguidores que extraem das religiões apenas aquilo que lhes faz bem e reconhecem os métodos sem sentido. Isso até inclui alguns líderes. É o caso de Vicenzo Paglia, ministro do Vaticano para a Família que já se colocou a favor dos direitos civis para gays – interessante pra ele?

Bento XVI sabe deste e de outros posicionamentos progressistas. Da mesma forma que talvez tenha finalmente entendido que estava sozinho ao ignorar o lance de que muitas questões que a Igreja Católica luta contra já são parte da sociedade. A grande novidade é que a maioria das pessoas já não veem problema algum nestas mudanças e a desistência do papa é a maior prova disso.