terça-feira, 12 de março de 2013

Fluidez dos relacionamentos


Michelle Facchin

Acabei de ler a obra Identidade de Zygmunt Bauman e me deu tristeza de saber como a vida do homem atual está baseada em relações fluidas, sem permanência, e que somos a geração do cabide, aquela que troca de relacionamento como de roupas.

“O modo consumista requer que a satisfação precise ser, deva ser, seja de qualquer forma instantânea, enquanto o valor exclusivo, a única utilidade, dos objetos é a sua capacidade de proporcionar satisfação. [...] Um dos presentes de Natal eternamente favoritos das crianças inglesas é um cachorro. Sobre a condição atual desse hábito, Andrew Morton recentemente comentou que os cães, conhecidos por serem bastante adaptáveis aos ambientes e às rotinas dos homens, deveriam “começar a reduzir a sua expectativa de vida de aproximadamente 15 anos para algo mais em sintonia com os breves instantes de atenção modernos: digamos, cerca de três meses” (esse é o tempo médio que se passa antes que os cães alegremente recebidos sejam jogados na rua). [...]

Tal como os animais de estimação, assim também com os seres humanos de estimação.” (p.70)

As relações interpessoais são objetos de desejo e medo, ambiguidade, inquietação, solidão. É bom viver livre de vínculos, sentindo-se totalmente à vontade para escolher dentre várias relações disponíveis, mas, como diz o sociólogo polonês, não estamos confortáveis no lugar em que ocupamos, estamos ansiosos, temerosos. A solidão está visível, quantos e quantos cenários de pessoas presas a seus celulares, computadores, sem sequer ver a vida acontecer. Quantos não se esquecem de que existe contato humano, e que não podemos simplesmente deletar as pessoas como fazemos no facebook ou no MSN.

Essas questões postas por Bauman vêm ao encontro das queixas das pessoas em relação a relacionamentos. Segundo ele, não existe solução ainda, mas podemos tentar achar paliativos, formas de minimizar os efeitos negativos dessa fluidez moderna em nossas vidas pessoais e nos conceitos de família que nossos pais nos passaram. A meu ver, deve haver alguma solução, mas, enquanto não a encontramos, vamos tapando buracos.

Triste, lamentável!