Imagem: Aldo Risolvo |
Na corrida pela fama vale até estender, sobre absurdos antes impensáveis, o abrigo amplo da arte. Como fazia o brasileiro que, na Europa, executava performance na entrada de um metrô. Sua “criatividade” o levava a mergulhar peixinhos de aquário, vivos, em óleo fervente.
Em outra ocasião, houve quem encerrasse cortes de carne crua numa caixa de vidro, deixando-a apodrecer ao lado de microfones. O ruído amplificado do vôo das moscas sobre a matéria putrefata dava o tom de realismo à “obra”.
Maria Teresa Fornaciari referiu-se certa vez ao que testemunhou em visita ao MOMA, em Nova Iorque, onde a beleza “extravasava o limite do ponderável”. Segundo a escritora, foi péssimo ver e sentir “a automutilação de artistas nus, em vídeo, ou a imobilidade de olhares de corpos também nus, em passagem estreita de um lado para outro das salas do museu”. Maria Teresa acrescentaria que a visão de alguém se cortando com gilete não lhe pareceu arte, “nem nos arredores do surrealismo”.
Nebulosos conceitos, sobretudo os que tocam à arte. A ausência de um artista em uma das edições da Bienal, em São Paulo, ensejaria na ocasião fato no mínimo curioso: compenetrado grupo de visitantes seria flagrado admirando uma velha escada de madeira, esquecida no estande vazio pelo encarregado da limpeza.
Mas também há exceções no campo das manifestações artísticas. Vista por muitos como a prima pobre das artes, a dança vive tempos de redescoberta. Ganha fôlego, mesmo na contramão de devastação em grande escala. Aqui, o sobrevivente balé clássico garante público fiel, atraído pela beleza e plasticidade de movimentos e coreografias. Ainda que fora do palco, o balé assinala a formação de muitos artistas. Apara arestas, desperta talentos, alimenta a criatividade de profissionais em outras áreas.
Se parecem intermináveis os tempos de fama do que se denominou “estética do ridículo” – quando se espalham pela mídia sucessos meteóricos, geralmente nascidos de um vídeo engraçado postado na internet – pode ser consolador pensar que tais lampejos de notoriedade são tchubirabiron. Ou, na palavra do músico Leo Santana, criador do hit, tudo o que Você quiser que seja.
Menos arte.