sexta-feira, 8 de julho de 2011

O peso da tradição



Cartório não é mais lugar obrigatório a qualquer casal. Com ou sem registro, igreja, vestido ou toneladas de bolo, pessoas se casam. Ao contrário do tempo da minha mãe, quando seu bolo ocupou duas mesas para encher com glacê as bocas de parentes, amigos, outros amigos que são só amigos dos pais, conhecidos e bicões.

Os casais têm a liberdade de se casar sem ser necessário, inclusive, alianças. Morar junto e dividir as contas de uma única casa também não são mais ditadura. Pessoas agora casam a seu modo. Fazem seus próprios votos. E até acredito que o “amar-te e respeitar-te” continue sendo unâmine em seus desejos.

Mas em meio a tanta liberdade e opções, por que as pessoas ainda se casam frente à igreja, com véu e grinalda e padrinhos usando trajes alugados? Será que isso – não garante, mas – ajuda no cumprimento do “unidos para a vida inteira”? Quando se trata de casamento, qual o peso da tradição?

Casados há 25 anos, meus pais trabalham a semana toda, saem para se divertir sempre às sextas ou sábados, discutem por algo bobo ao menos uma vez por semana, almoçam em família todo domingo e chegam a ficar, em média, duas semanas em crise a cada três meses. Comum? Sim.

A questão é que a cada crise ou discussão em que eles se estranham, eu sempre sei que logo vai passar e tudo ficará bem. Vejo isso desde criança. Por que sempre fica bem de novo? Não sei. Palpite? Casamento tradicional.

“Ah, Matheus, problema é dos seus pais e de quem vive assim. Não acredito em casamento desse jeito e ponto final!”. Tudo bem. Mas em um casamento à moda antiga, quantas vezes pensamos antes de jogar tudo pro alto por conta de um parente insuportável ou problema que parece insolucionável? Eu arrisco: pensamos várias vezes. O peso é colocado na balança e deixado descançando enquanto a poeira abaixa.

E se fosse outro tipo de casamento, como os citados no início deste texto? Sem alianças, casa juntos, entre outros vículos? Em um casamento sem o peso da tradição, quantas vezes pensamos antes de dizer “vamos terminar, cada um pro seu canto, para assim sermos felizes”? Eu afirmo: pensamos poucas vezes. Já não há muito compromisso mesmo, ou pelo menos sinais dele.

Concodo que algumas pessoas sentam, sim, nesse peso da tradição e levam vidas conformadas e acomodadas do tipo “ah, agora já foi, não posso fazer nada”. O que não é legal.
Do mesmo modo que outras ficam cada vez mais próximas por viverem “sem amarras” e se amando e respeitando.

Talvez o fundamental seja não se impor nada. Você e seu companheiro estarem abertos a arriscar e a fazer do modo que acharem melhor. Também pode ser mesmo importante ter um peso que segure o sobe e desce do casamento, mas o nome deste por ser definido por vocês. Uma sugestão: peso do amor.