Arisson O grande
A velha deu um sorriso safado e falou com dificuldade por conta da dentadura frouxa:
-Hoje é Dia do Orgasmo, sabia?
O velho continuou assistindo o noticiário e se limitou a movimentar a cabeça positivamente, sem desviar o olhar. A velha prosseguiu:
-Tenho um presentinho pra você, meu véi.
O marido olhou e não conseguiu disfarçar o espanto:
-Uau!
A velha com um batom vermelho mordia os lábios com uma sensualidade aposentada. O velho sorriu, como só faz quando recebe o dinheiro do INSS:
-Minino! Mas ocê tá chique demais!
A velha, vestida apenas com uma lingerie, gesticulou com o dedo indicador, convidado-o a seguí-la. O velho levantou animado assustando o cachorro rabugento que se acomodava em seu colo:
-É hoje! É hoje!
A velha deitou-se partindo a cama ao meio, como uma enchada cravada no solo. Seus braços finos apoiados na almofada deixava exposto o rosto enrugado:
-Venha, meu velho! Venha!
O velho tirou as botinas e se deitou ao lado dela. Os dois se encararam enamorados. Brilho no olhar. Além de casados, eram amantes:
-Hoje é um dia especial, né?
-É.
-Acho que o Alzheimer está atacando. O que comemoramos hoje mesmo?
A velha parou por um instante com uma dúvida no olhar:
-Ai. Não faz pergunta difícil. Você sabe que minha memória anda falhando.
-Fala isso pra mim? Esses dias nem a cabeça de cima nem a de baixo têm funcionado perfeitamente. Mas te vendo vestida assim, pensei em uma coisa. O que acha de relembrarmos os velhos tempos, heim. Véia? Véia! Ocê tá acordada ainda? Véia? Véiaa!