sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sempre diga nunca


Matheus Farizatto

Enquanto Pedro Bial sugere o uso de filtro solar e padre Marcelo Rossi recomenda a leitura de seu novo “Agapinho” para crianças, eu entro no embalo das sugestões que podem dar em nada e arrisco: sempre diga nunca.

Sei que já ouviu o contrário daquele colega meio mala que jamais na história das conversas de boteco te deu um conselho que servisse, mas que insiste em parar o assunto na mesa, esperar o holofote acender em seu rosto para fazer o carão e te encarar nos olhos para dizer: “nunca diga nunca”. Alguns soltam mesmo fora do contexto. Você comenta, “poxa, nunca vi a fulana”; então o fofo devolve, “nunca diga...”, ahhh!

Meu depoimento não entraria para o chato do Fantástico, mas talvez a sonolenta Sônia Abrão fizesse uma entrada ao vivo comigo. A questão é que essa coisa começou a funcionar para mim como uma bordoada do universo.

Sobram exemplos. Disse certa vez que nunca encararia um relacionamento sob o mesmo teto. Casamento? “Olha, eu acho bacana você comprar capas para almofada e pensar na cor das cortinas, mas tenha isso tudo como coisas para o seu apartamento”, expliquei – tempos depois eu recebi e curti demais as etiquetas coladas nas gavetas de um outro apê, todas com meu nome como forma de convite para eu guardar ali as minhas peças. Ao lado de outra pessoa. Topei! E eu disse nunca.

“Traição para mim, não serve. Eu nunca perdoaria”. Você já conhece o rumo da conversa. Sim, óbvio, depois de trair uma vez, fui traído. Acontece. Cinco vezes. Acontece? Pela mesma pessoa.

Como eu disse que nunca perdoaria, fiz papel de trouxa ao quadrado multiplicado por oito quando perdoei. E fomos felizes, viu? Ex-cornos, porém, cientes de toda a situação e a escolha em seguir adiante foi de ambos. Boa!

Hoje facilito minha vida. Com as experiências, conquistei serenidade para ousar dizer “nunca” só para desafiar o destino e ter o que realmente quero. Já ouviu falar em psicologia reversa? É ela pura.

Se fosse livro, chamaria o “O (anti)segredo”. Meu ápice foi repetir a mim mesmo, por anos seguidos, que seria impossível ter um namoro "normal"/tradicional com uma pessoa do mesmo sexo que eu. A repetição foi tanta que se tornou condição para mim. “Isso nunca vai acontecer”.

Durou quatro anos. Moramos junto. Estávamos em todos os aniversários e outras ocasiões em família. Sogras dando presentes e tias insistindo no “come mais um pouco!”. Todos conosco. Sem meias palavras. Emprego, amigos, o “Nunca” foi meu padrinho.

E desgraças também acontecem quando dizemos que nunca faríamos. Portanto, use a seu favor. Relacionamentos se desfazem, outros surgem, seguros desemprego correm soltos por alguns meses, pessoas morrem, outras ganham um cachorro, gravidez surpreende, drogas matam ou salvam. Faça a sua lista e organize seus maiores desejos. Feito isso, leia cada um e em seguida sempre diga que nunca irá acontecer.