Matheus Farizatto
Fotos tiradas por mim no show de Porto Alegre (RS) |
Perdi a virgindade em Madonna tardiamente, por volta do final da década de 90, ali pelos meus 10 anos, com “Like a Virgin”, quando conheci quem era a intérprete do hit polêmico, que se vestia de noiva, loira, com os dentes da frente levemente separados.
Daí para frente, Madonna era pra mim a artista polêmica que fez sucesso nos anos 80 e 90, usando sutiã em formato de cone, microfone headset, beijava um “santo” negro no videoclipe de um de seus clássicos e coisas do tipo. Assim como Michael Jackson, foi tudo aquilo. A rainha do pop! Mas parava por aí.
Eu não era do tipo que acompanhava o mundo da música, mas na adolescência, entre os intervalos de uma revista em quadrinhos e outra, gravava a minha fita cassete com o Top 10 das rádios. Logo veio a gravação em CD – ainda sob encomenda ao amigo da amiga que tinha computador com tal tecnologia – e em ambas coletâneas, lá estava a loira que eu nem imaginava a idade. “Madonna é um pouco mais velha que a Britney. Uns dez anos, no máximo”. Sem noção.
De quatro anos para cá, fui apresentado a Madonna Louise Veronica Ciccone. Quem fez as honras foi meu companheiro, fã há 30 anos da mulher. “Nossa, ela tem tudo isso de carreira e idade?!?”. Foi mais ou menos assim. E mais: mãe de Lourdes Maria, a Lola, de um primeiro relacionamento e de Rocco, com um cineasta com a qual foi casada por oito anos; depois adotou duas crianças no Malawi; ah! – também se relacionou com Sean Penn, que batia nela; foi afim de Antonio Banderas, mas ele não deu muita moral pra ela; estrelou alguns filmes; simulou masturbação em shows; foi perseguida pela igreja; estuprada quando chegou a Nova York; e muito mais, nunca parava!
“Legal. A mulher é realmente foda”. Mas era tudo de certa forma distante de mim. Entendia tudo que ela representava, mas era como se eu não tivesse vivido seu ápice, suas atitudes e o que me restava era a sua música – ótima, música pop.
Dezembro de 2012, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Enquanto parte dos gaúchos vibrava com a inauguração da nova arena do Grêmio, este pessoal e muitos outros, esparavam ansiosos pelo evento de despedida da velha arena: o show de Madonna.
Eu, paulista do interior, mas estava lá. O que presenciei foi inimaginável. Quando o ônibus panorâmico, lotado, do city tour passou em frente a velha arena, vimos a ponta do palco gigantesco da mulher e ao ser anunciado pelo guia, “faremos um desvio pois a rua já está interditada para o show da Madonna”, todas as pessoas ali gritaram e aplaudiram.
No mercado municipal da capital ou no hotel, fãs e mais fãs. Todos comentando a história sobre a sua ida. Inclusive enquanto esperávamos o show começar. Sim, esperávamos, no plural mesmo, não só pela minha companhia, mas pelos amigos que fiz lá e a experiência de estar com milhares de pessoas que curtiam aquela festa numa mesma vibe.
Ao começar o show, na pista premium, pessoas que pagaram caro para estar ali e que entendiam que todos os outros fizeram o mesmo. Durante as músicas, com Madonna ao fundo do palco ou na passarela a nossa frente, havia respeito. Um público sem cotoveladas ou câmeras e iPhones levantados a todo o tempo. Havia espaço para pular com os braços para o alto e também para assistir a uma balada.
Madonna canta, dança, surpreende e incomoda por ser quase inacreditável. Passados 15 anos de quando a vi em “Like a Virgin”, Madonna esfrega 30 anos de carreira e 54 de idade com profissionalismo, inovação e muito, muito conteúdo em tudo o que se envolve.
Vi de perto seu cabelo, rosto, com e sem maquiagem, corpo, figurino, a veia saltada no peito de seu pé. O inacreditável estava logo ali, na minha frente. Próxima também por conversar conosco, fazer piadas com palavrões. Madonna é real.
Faço questão de ler, mas quem precisa de biografia? Se eu era um “semi-fã”, hoje sou fã-admirador. Gostem ou não, esta mulher é acima de tudo: inspiradora. É e sempre será incomparável. Madonna é Real.