domingo, 9 de outubro de 2011

Estou vendendo uma criança, Aparecida!



Estou vendendo uma criança neste dia de criança. Apareça por aqui, pago o preço que pedir!

Estou vendendo uma criança, desde ontem e para sempre, seja para os supérfluos, seja para os delinquentes. Apareça quem quiser, que eu desembolso consciente. É tão fácil deixá-la contente.

Estou vendendo uma criança que ainda nem nasceu. Apareça aqui aquele que eu paguei para me dar muito prazer.

Estou vendendo uma criança para o tráfico ali da esquina. Apareça quem a elimine, eu pago qualquer preço para não ver tão triste sina.

Estou vendendo uma criança para o sexo tão explícito. Apareça, quem de gosto, que eu pago para abafar o tal delito.

Estou vendendo uma criança para as violências domésticas. Apareça, eu pago para que este boletim não se some às estatísticas.

Estou vendendo uma criança para qualquer violência esportiva. Apareça, eu pago em qualquer moeda para que o meu time seja o campeão.

Estou vendendo uma criança para ser bem estuprada. Apareça, que eu compro TVs de todas as polegadas, apalpadas, mordidas e afins...

Estou vendendo uma criança para a tal desigualdade. Apareça que eu pago, eu sou “tão” sociedade; preciso estar. Já que sou, posso!

Estou vendendo uma criança para uma doença qualquer de fome. Apareça quem quiser, que eu pago com o meu dinheiro o que se compra, mas não se consome.

Estou vendendo uma criança para uma fila de saúde. Apareça, vou pagar toda ciência que me permita a finitude.

Estou vendendo uma criança para ser um homem bomba. Apareça, que eu pago qualquer valor para poder dormir em paz.

Estou vendendo uma criança para qualquer tipo de exclusão. Apareça, que eu pago qualquer preço para eu ser melhor que todos.

Estou vendendo uma criança para a boca do lixão. Apareça, eu pago o que você quiser, porque eu quero ver a frente da minha casa sempre limpa!

Estou vendendo uma criança para qualquer sinal vermelho. Apareça, eu pago para ganhar um verde que não reflita no meu retrovisor.

Estou vendendo uma criança para qualquer tipo de fundação. Apareça, pago o que você pedir para proteger as grades da minha humilde mansão.

Estou vendendo uma criança para se tornar um marginal. Apareça, que eu pago para calar a sua boca se disser que o professor é a autoridade na escola.

Estou vendendo uma criança para que ela não aprenda nenhuma arte. Apareça, põe logo o valor na obra prima que eu preciso lavar o dinheiro.

Estou vendendo uma criança que quer ser aparecida. Apareça, ‘cê’ trabalha tanto, arrisca a própria vida, ganha tão mal, vou dividir com você o dinheiro do resgate.

Estou vendendo uma criança que precisa de justiça. Apareça, eu pago o seu preço para arquivar o processo que corre contra mim.

Estou vendendo uma criança para viver em qualquer rua. Apareça, eu pago o necessário para derrubar os tais barracos.

Estou vendendo uma criança para um projeto eleitoreiro. Apareça, financio a campanha de quem tiver bom marqueteiro.

Estou vendendo uma criança para qualquer violação. Apareça, eu vou me confessar, faremos comunhão. Quanto vai cobrar para a minha salvação?

Estou vendendo uma criança para a minha insegurança. Apareça, eu pago o preço, mas leve logo esse meu medo.

Estou vendendo uma criança para uma escola sem educação. Apareça! Leve a minha carteira abarrotada. Leve também a lousa velha, os livros rasgados, a merenda contaminada. Os professores maltratados, apanhantes, apanhadores de sonhos... Pra que dinheiro pra essas coisas?

Estou vendendo uma criança para que cresça e apareça, depois crucificá-la. Apareça, eu pago qualquer preço para jogar minha moeda nessa cruz.

Estou vendendo UM PRESENTE! Hoje é dia das crianças, Aparecida, compre-O e faça dele passado. Porque o futuro ... o futuro... quanto é mesmo que vale se ele aparecer?